Tranquilos leitores, os soldados de Dunga estão em Durban, cidade portuária conhecida por sua pujança econômica, nem sempre acompanhada pela social que se reflita em toda a África do Sul. Estamos chegando lá; como diria o Zagallo: só faltam 4... Nesta sexta (25) enfrentam os lusitanos, que em priscas eras fizeram de seus portos o ponto de partida das suas conquistas. Numa delas, descobriram a gente. Dizem que foi meio sem querer: as naus capitaneadas por Pedro Álvares Cabral, cujo assessor de Imprensa era Pero Vaz de Caminha, já estariam tão próximas da praia que, ao sopraire uma ventania dus diabos, a areia bateu feio nos olhos do vigia lá do topo dos mastros. Aos berros do infeliz: "terra na vista, terra na vista", alguém acordou e deu de cara com o que viria a seire o Bresil. Todo cuidado é pouco, ora pois. Do mar para o campo de futebol, passados tantos séculos em que os portugueses saíram à procura do caminho das Índias, e acharam as nossas, está na hora de descobrirmos o caminho das redes d´eles. Ainda bem que no elenco canarinho também há gajos, cá conhecidos como ratos de praia, casos de Robinho, revelado em cidade portuária, e Júlio César, da já chamada cidade maravilhosa, entre outros. Já pensaram se o camisa 11 desencanta, tal qual o gênio que vestiu a 11 no primeiro título mundial brasileiro; ele, mesmo, o Mané Garrincha? Aliás, a Copa chega num momento em que muito jogador que costuma decidir partidas em seus clubes, e até mesmo em seleções, ainda não explodiu. Já pensaram se todos estes - Kaká, Rooney, Klose (toc! toc! toc!), Messi (bate na madeira de novo!), Robben - redescobrissem o seu melhor futebol ao mesmo tempo? Aí, sim, a Copa começa. E nós chegamos à 20a. edição da coluna. Não sei por que acham tão difícil chegar ao hexa! Bota furada Quem diria, a seleção do leste europeu ganhou na bola e na raça e despachou a da bota na partida mais dramática da Copa até agora. Os 3 a 2 da Eslováquia sobre a Itália até ficaram barato porque, a certa altura, os eslovacos diminuíram um pouco o ímpeto de seus ataques. Antes do início da competição, em entrevista ao Guia da Copa 2010 Placar, Marcelo Lippi disse que a graça da Copa do Mundo é que revelações, bom e mau rendimento serão avaliados durante a competição. Deve ser por isso que o técnico da azzurra aceitou comandar a seleção italiana pela segunda Copa seguida, por acreditar que seria possível conquistá-la de novo. Aceitou o desafio e perdeu - coisas do futebol. Mal sabia ele que, em seu caminho, a Eslováquia confirmaria o que argumentou na entrevista. A Itália dificilmente chegaria a líder do Grupo F, nesta quinta (24), porque o Paraguai já estava com 4 pontos, ao término da segunda rodada, e enfrentaria a zebra da chave, a Nova Zelândia. A seleção de Lippi, por sua vez, encararia a última colocada na tabela, a Eslováquia. Era quase certo que as posições das duas seleções que passariam às oitavas de final não se alterariam: Paraguai e Itália. Só restava saber com quantos pontos as duas fechariam a primeira fase da competição. Esta, para Lippi, tão importante e surpreendente que as diferenças se veem dentro de campo. Diferença mesmo: a Eslováquia foi mais time que a Itália, num jogo disputadíssimo e muito faltoso de ambas as equipes. Numa das entradas mais duras, Gattuso abriu, não o placar, mas o joelho de Strba.Não sei por que, mas Gattuso, para mim, simboliza a raça, mas com aquela faccia bruta teria de adotar o nome: Gennaro – tem mais cara de Gennaro, eco! O meio-campo eslovaco Strba já estava para ser substituído, aos 40 do primeiro tempo, mas da lateral do campo pediu pra voltar. A raça eslovaca foi apresentada no Ellis Park, em Joanesburgo. A difícil missão da Eslováquia ante a tradição italiana e o poderio da seleção - tetracampeã e detentora do título mundial, ainda mais ocupando a equipe do leste europeu a última vaga na chave até este jogo, com apenas 1 ponto conquistado e saldo negativo de 2 gols - foi cumprida com doses de raça e superação. Firme e forte na defesa, em que não era raro contar com 8 jogadores em sua área; atenta, sem perder a técnica no toque de bola no meio de campo; e veloz no ataque, a Eslováquia teve em Vittek o seu goleador (foram dele os dois primeiros) e em Kopunek o predestinado, ao fazer o terceiro gol eslovaco logo depois de entrar. A Itália esteve longe dos melhores momentos da azzurra tetracampeã do mundo, e no quesito que mais pecou foi na lentidão de sua saída de bola (Zambrotta custou a ir ao apoio, também porque seu setor foi muito bem bloqueado pelo esquema de Wladimir Weiss), bem como na bobeira geral de sua defesa. A Eslováquia sofreu pressão mesmo da Itália nos estertores da partida. Mas aí já era tarde, nos 5 minutos de acréscimo. Lippi, a certa altura, era a imagem de toda tensão do mundo, com as mãos na nuca numa automassagem que lhe garantisse a calma necessária; Buffon, no banco de reservas, esfregava os dedos das duas mãos; Gattuso, que saíra, olhava entre incrédulo e tifoso a derrocada da atual campeã. Nem Pirlo pode fazer muito pela azzurra. Os gols saíram aos 24 do primeiro tempo, com Vittek mandando a bola à direita do goleiro italiano, ao receber livre, numa das bobeadas da marcação; aos 28 do segundo tempo, Vittek, de novo aproveitando um dos tantos vacilos da azzurra - havia 7 italianos na área na cobrança de escanteio -, colocou fácil no canto esquerdo de Marchetti. A Itália descontou com Di Natale, aos 35, com o gol escancarado à sua frente depois de boa tabela Quagliarella-Iaquinta. Aos 44, Kopunek marcou o terceiro da Eslováquia, que passou a sofrer a pressão que a torcida italiana esperava o jogo todo. Quagliarella encobre Mucha, que se estica todo, mas não consegue evitar o segundo gol italiano em chute de longe. Lippi levou para a África do Sul um grupo mesclado de nomes consagrados e jovens talentos (apenas 2 deles não jogam em clubes italianos), alheio a reações de torcedores e imprensa. Polêmicas existem sempre, lembra il capo, e muitas mais virão. Avanti, azzurri!!! Quem sabe até a próxima, aqui. A equipe que levou a Eslováquia às oitavas é esta:
Cavalo manso No outro confronto do Grupo, Paraguai e Nova Zelândia fizeram um jogo em que qualquer vacilo dos sul-americanos poderia representar a sua eliminação da Copa. Os neozelandeses, como franco-atiradores, se conseguissem uma vitória, somariam 5 pontos e passariam os paraguaios. Acabou em 5 pontos para os guaranis, que empataram por 0 a 0 e se mantiveram em primeiro lugar na classificação, sem se esforçar muito. O cavalo paraguaio pode ser manso, mas despachou a zebra. No primeiro tempo, foram duas oportunidades criadas pelo Paraguai, sem maior perigo: uma em chute por cima do gol neozelandês e outra em conclusão nas mãos de Paston. A Nova Zelândia, toda de preto, ameaçou no segundo tempo, mas a pontaria de seus atacantes não é o seu ponto forte. Para não deixar dúvidas, os paraguaios chegaram à área adversária, com perigo, numa cobrança de escanteio, em que o goleiro saiu bem e rebateu a bola, sem aproveitamento do rebote. Roque Santa Cruz foi quem iniciou a jogada mais aguda no ataque, não como finalizador. Dominou a bola pela esquerda e colocou-a no miolo da área; Paston saiu mal do gol, deixou a jabulani aos pés de Barrios, que não acreditou no presente. Era só ter cutucado pro gol. O Paraguai já participou de 8 Copas, chegou às oitavas em 3 delas (1986, 1998 e 2002) e faria de tudo para superar esse desempenho. Na África do Sul conseguiu a sua quinta vitória nessa competição fora das Américas. Agora, volta a disputar as oitavas e quer mais. Bem diferente é a situação da Nova Zelândia, com apenas duas participações em Copas (1982 e nesta) com 4 gols marcados até esta quinta (24). Em sua camisa traz as cores da zebra e um raminho de esperança (acredito) no escudo. Na Copa da Espanha sua participação foi de lascar, ao não passar da primeira fase, mas não precisava exagerar, aos ser goleada por 4 a 0, 5 a 2 e 3 a 0 pelo Brasil, Escócia (meu Deus!) e União Soviética. Não é sem motivo que o especialista Jeremy Reez, do New Zeland Herald, escreveu no Guia Lance Copa 2010: "Apesar de a Nova Zelândia estar classificada para a Copa do Mundo, o futebol ainda não se firmou por aqui. O rugby segue como sendo o esporte predileto da nação. As expectativas não são boas. A chave é complicada e faz com que a seleção não sonhe muito, já que a Itália e o Paraguai são considerados favoritos para as duas vagas do Grupo". Com uma projeção assim, até que os neozelandeses não fizeram tão feio: saíram sem tomar goleadas e até mesmo empataram por 1 gol com a Eslováquia e a Itália; e agora ficaram no 0 a 0 com o líder do Grupo. Os paraguaios classificaram-se com esta equipe:
Confira como ficou a classificação:
Camarão na moranga Se a Holanda é laranja, e a moranga tem esta cor, a opção do dia na rodada que encerrou o Grupo E só poderia ser Camarões na moranga. Mas ô camarãozinho duro de preparar esse da Copa, pra colocar na moranga. No jogo considerado por especialistas como um amistoso de luxo, a Holanda veio com uniforme menos vistoso e só chegou ao primeiro gol aos 35 do primeiro tempo, como se seus jogadores estivessem na sala de visitas para servir o prato: Van Persie recebeu de Van der Vaart, entrou na área, pela direita, e mandou a bola no canto oposto de Hamidou. No segundo tempo, Eto´o teve a chance de empatar, de pênalti, bem cobrado com a direita, e não desperdiçou. Camarões ia ao ataque, sem medo, tanto que a falta na área holandesa foi cometida por Van der Vaart, que ajudava na marcação. Huntelaar, em boa troca de passes, finalizou com a direita e ampliou para 2 a 1, garantindo a Holanda entre as seleções que estão 100% até aqui. Louve-se a seleção que veio com o time que eu considero titular (até Robben fez a sua estreia, aos 27 do segundo tempo), não entrando no clima de já ganhou e nem precisaria desgastar os seus atletas. Vale muito mais a pena manter os jogadores em atividade, mesmo porque a competição é de tiro curto. Camarões, infelizmente, dos times africanos foi o que mais me decepcionou porque não lembra aquele de Roger Mila, que empolgou torcedores e cronistas esportivos por algum tempo. Uma pena que tenha restado apenas Gana, com méritos, para representar o continente nas oitavas. A Holanda foi pras oitavas graças a:
Robôs azeitados Na comparação "Dinamáquina" e robôs japoneses, quem se saiu melhor foi a equipe da terra do sol nascente, com os 3 a 1 desta quinta (24), no Royal Bafokeng Stadium, em Rustemburgo. Com três golaços - dois de falta, aos 17 e aos 30 do primeiro tempo; e um em bela triangulação, no segundo -, Honda, Endo e Okazaki sacramentaram a classificação da sua equipe às oitavas, fazendo prevalecer o seu melhor conjunto em campo. Tomasson descontou em cobrança de pênalti, mas precisou contar com o rebote de Kawashima para mandar a bola pra dentro. A Dinamarca atacou mais nos 10 minutos iniciais, mas faltou objetividade nas conclusões. O que se repetiu no segundo tempo. O técnico Olsen parecia mais Ursen de tão bravo que ficou no banco de reservas. Fez as substituições corretas, que ajudaram a equipe a não jogar a toalha, mas insuficientes para virar o placar a seu favor. Empate também classificava o Japão. Os dois gols de falta japoneses devem ser resultado da passagem do Galinho por lá. Na primeira, Honda mandou a bola, da direita, cruzado para o canto oposto de Sorensen, com a jabulani indo dormir nas redes laterais, bem baixo. Quando todos esperavam, na barreira dinamarquesa, que o camisa 18 fosso cobrar a segunda falta, foi Endo quem chutou, frontal, no canto esquerdo do goleiro, que se esticou todo, sem sucesso. O terceiro gol japonês foi uma pintura: Okubo lançou Endo, que já na área deu um drible desconcertante de calcanhar em Jacobsen e deixou Okazaki livre para empurrar para as redes. O Grupo E tinha apenas 2 das 4 equipes em condições de decidir quem passaria às oitavas de final com a Holanda. Restava a esta tão-somente definir se somaria mais 3 pontos para fechar a primeira fase 100%, missão até certo ponto facilitada por enfrentar a seleção camaronense já sem chances de classificação. A Dinamarca, quando pode, aplica goleadas históricas, como a de 6 a 1 no Uruguai na primeira fase da Copa de 1986, realizada no México. Já teve em seu elenco algo raro de se ver: dois irmãos bons de bola, os Laudrup - Michael e Brian, o primeiro mais experiente, que dividiram as atenções da torcida na Copa da França, em 1998. Se sabem ir ao ataque, os dinamarquesas mostraram nas Eliminatórias para a África do Sul que também conseguem se fechar bem; sofreram apenas 5 gols. Nesta quinta (24), de pouco adiantou a performance. O Japão, que desde 1998 até agora acumula participação em todas as Copas, se saiu melhor na de 2002, que sediou com a Coreia do Sul; chegou às oitavas, líder de sua chave, mas foi eliminado pela zebraça da competição, a Turquia. Emplacou o nono lugar na competição. Seu ponto forte é a disciplina tática, aliada à rápida saída de bola da defesa para o ataque. Empatadas até a rodada decisiva em número de pontos e vitória, sem empate, apenas o saldo negativo de 1 gol da Dinamarca deixava os europeus em desvantagem sobre os asiáticos. A equipe que classificou com méritos o Japão é:
A classificação do Grupo ficou assim: Frases da Copa
Por hoje, é isso. Lembro que o texto desta coluna sai também no sitewww.cliqueabc.com.br fotos: getty images, aft, reuters charge; jb, sinovaldo, dácio, junião |
25 de junho de 2010
A SELEÇÃO CHEGOU AO PORTO D
24 de junho de 2010
Junte se a nós e participe do Dia Sem Globo em apoio a Dunga.
Depois de seus funcionários Galvão Bueno e Tadeu Schmidt, foi a vez da rede Globo cair nas mãos dos usuários do Twitter. Pelo microblog, internautas estão planejando um boicote à emissora carioca Ocupando a oitava posição nos trending topics nacionais na manhã desta quarta-feira (23), o #diasemglobo convoca os internautas a boicotarem a emissora carioca na próxima sexta (25), às 11h, durante a partida entre Brasil e Portugal. A orientação é que assistam ao jogo na Band ou no canal fechado ESPN, que também tem o direito de transmissão. A campanha surgiu após a polêmica entrevista coletiva de Dunga, no domingo (20), na qual o técnico da seleção brasileira teria xingado um jornalista da Rede Globo. No mesmo dia, o jornalista Tadeu Schmidt leu uma nota em tom editorial, na qual reprovava o comportamento do treinador. Segundo o perfil @diasemglobo, que coordena o movimento, o boicote seria mais um apoio ao "Cala boca, Galvão" e ao "Cala boca, Tadeu Schmidt", que dominam o Twitter desde a semana passada. Outro usuário aponta que o movimento "não é falta do que fazer, é uma resposta à parcialidade do jornalismo!". O perfil @diasemglobo já conta com 1.900 seguidores, Os fatos e a campanha
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A SELEÇÃO CHEGOU A PONTO CRÍTICO
Sábios leitores, guerra santa no futebol? Só faltava esta. Kaká, o queridinho de muita gente por seus dotes futebolísticos e por outros atributos, deu agora para ir na esteira do general Dunga e atritar a imprensa. O pior é que, a meu ver, o fez da maneira mais incorreta. Um jornalista participa da coletiva do jogador e, na espera da resposta à pergunta feita, surpreende-se que o 10 da seleção de Dunga comece a tripudiar sobre algo que o pai desse jornalista teria escrito a respeito do Kaká. Dando nomes aos bois: André Kfouri, jornalista da ESPN e do Lance, filho de Juca Kfouri, este para mim um ícone da mídia esportiva escrita e respeitado por suas posições corajosas frente assuntos que se refiram a ou tenham a ver com futebol. Conheci o Juca cidadão e convivi mais com essa pessoa do que com o Juca jornalista especializado em esportes, notadamente futebol. Agora, vem o Kaká dar a entender que o Juca o persegue, que, por ser ele, Juca, ateu (palavras de Kaká) tem preconceito com Kaká, por ser o jogador evangélico. Me poupem! Guerra santa no futebol, na na ni na non (é assim que se escreve?), e vinda do Juca Kfouri? Duvido. Faria muito melhor o Kaká se convidasse o Juca para um bate-papo, tomando um cafezinho ou, sei lá, num almoço ou num jantar, para tirarem as diferenças. Agora, usar de uma coletiva, em que o citado desafeto não se encontra e mandar recado pelo filho dele, que está ali a trabalho, só pode ser algum item da cartilha dunguista. Até Felipão, pasmem, acha que Dunga exagera em seus ataques à imprensa. Se me permitem, leitores, e o Kaká e o Juca também, estudei Filosofia e Teologia, sou cristão, mas sem fanatismos. Antes de se decidir por alguma religião, o indivíduo tem de procurar ser pessoa íntegra, ética antes de mais nada. Conheço muito colega na profissão, na qual sobrevivo desde 1972 (façam as contas), que não é religioso, mas tem caráter, é íntegro, não se contenta em conhecer a história recente deste país, mas procura fazer parte dela. Juca é uma dessas pessoas, que o digam a sua militância sindical, a sua participação em episódios decisivos pela redemocratização do País. Kaká, menos alarido, por favor, e mais futebol, se você estiver em reais condições de jogá-lo, como sempre fez - pena que não no Corinthians.
A conquista é vermelha Vestida de vermelho, a Inglaterra veio para o jogo decisivo no Grupo C e um dos mais importantes em sua história de inventora do futebol (os brasileiros aperfeiçoaram o esporte, mas alguns se esqueceram de como se faz). Tinha de vencer a Eslovênia no Nelson Mandela Bay, em Porto Elizabeth, e ainda torcer por resultado que lhe fosse favorável no confronto de estado-unidenses e argelinos, na outra partida da chave. Líderes até ali, os eslovenos não poderiam acomodar-se nos 4 pontos conquistados porque até mesmo a última colocada, a Argélia, com 1 ponto apenas, poderia surpreender em caso de vitória sobre os Estados Unidos. Jogo duro, arbitragem séria do alemão Wolfgang Stark. Quem sabe o vermelho das Cruzadas deixasse os britânicos mais aguerridos. No início, Johnson pegou Kirm na lateral do campo, para impedir a saída rápida de bola do adversário. O lateral-direito inglês parecia não estar num de seus melhores dias porque já se atrapalhara todo, próximo de sua área, ao tentar domínio da jabulani, que lhe escapou por baixo das pernas. Dois minutos depois, Rooney impediu nova arrancada eslovena, derrubando o adversário por trás, e foi advertido pelo árbitro. Aguerrida, a Inglaterra estava; modificada também. Capello colocou Upson, Milner e Defoe, este ao lado de Rooney no ataque. A Eslovênia, muito bem armada, saía rápido ao ataque. Aos 13, começou o coro que incentiva os guerreiros: "God save the queen", "England, England", cantou a torcida a plenos pulmões. Foi uma sequência de 3 jogadas contra a área eslovena para uma de Birsa contra o gol de James, em cobrança de falta. A encarnação do espírito de luta era Rooney, que acreditava em todas. Aos 21, dominou a bola, quase perdida à esquerda, no encontro da linha lateral com a de fundo, e armou a jogada de ataque. Aos 23, Defoe, mesmo com marcação de zagueiro, abriu o placar, à moda dos centroavantes, depois de receber cruzamento da direita, feito por Milner depois de boa troca de passes. O próprio Defoe, 3 minutos depois, pegou mal o rebote, em jogada que foi replay da que resultou no gol, até ali salvador. Aos 29, a jogada de ataque mais benfeita da partida: Defoe, de novo, acerta o pé, o goleiro rebate, Gerrard ajeita de cabeça para Rooney, que lhe devolve a bola para o arremate, colocado na direção do canto esquerdo de Handanovic; quase surge outro frango na Copa. O bom lateral-direito esloveno, Brecko, ainda tirou uma bola de peito, quase no chão, vinda em chute cruzado, próxima do canto direito da sua meta, e a Eslovênia teve outras duas cobranças de falta a seu favor. Aos 43, Defoe sofreu falta, não marcada, ficou meio grogue e saiu dando sinais de que não voltaria. Wolfgang acabou o primeiro tempo aos 45, em ponto. Na volta das equipes ao gramado, assisti aos 34 segundos mais disputados na Copa, com o gol mais perdido também: Handanovic tenta impedir que saia mais um escanteio, não consegue; Rooney cobra rápido, a defesa rebate mal, a bola sobra para Defoe, livre, de costas pro gol, dar um toquinho... pra fora. Os cruzados vermelhos jogavam melhor. Aos 4 minutos, Defoe marcou o segundo, mas havia impedimento de Rooney. Em rapidíssimo contra-ataque da Eslovênia, em chute de longe, James teve de se virar porque havia um atacante na espera da sobra de bola, que não aconteceu. Lampard, Gerrard e Rooney, aos 7, em tabela sensacional, pararam na marcação cerrada eslovena; aos 9, Koren cobrou falta, venenosa, ao tentar que a bola quicasse perto do goleiro, que conseguiu abafá-la; aos 11, Terry cabeceou certinho, no canto direito, para defesaça de Handanovic, à la Banks na Copa de 70 - que ironia! Rooney parece que reencontrou o futebol que ele sabe jogar e esteve perto de fazer o gol dele também, como aos 12, quando desviou do goleiro e mandou a jabulani de leve na trave; um minuto depois, linda jogada do 10 inglês, na área inimiga, com direito a elástico no seu marcador. A Eslovênia, com a entrada de Dedic, arquitetou a chamada blitz pra cima da área inglesa, aos 22, com jogada muito bem tramada, com corte seco no zagueiro, chute pro gol, rebatido por James; o arremate veio forte, de fora da área, e Terry mergulhou de cabeça rente ao chão; se a bola viesse ali, bateria nele, mas foi pra fora. Os 15 minutos finais foram dramáticos pros dois lados: o número de faltas aumentou, par a par, os cartões amarelos se sucediam e, num escanteio, aos 39, todo o English Team estava em sua área para evitar o pior. Tomar um gol seria desastroso. O árbitro alemão acrescentou 3 minutos, para aumentar ainda mais a adrenalina. Sempre que tomava a bola em sua defesa, a Inglaterra ia cautelosa até o meio de campo, fazia as jogadas rente à linha lateral e, assim, segurou o placar que lhe era favorável. Se o drama inglês não chegou a uma tragédia shakespeariana, os eslovenos tiveram um castigo que não mereceram, não por este jogo. Até o apito final, em Porto Elizabeth, eles eram o segundo colocado, com os britânicos em primeiro. Mas aí, no outro jogo, os Estados Unidos fizeram o gol nos acréscimos, tomando a vaga da Eslovênia. A Inglaterra custou a fazer valer o que disse o técnico Fabio Capello ainda antes do início da competição. "Minha meta é a final" é o título da entrevista que ele concedeu ao Guia da Copa 2010 Placar. Na opinião de Capello, "nosso time é muito bom. Se todos os jogadores estiverem bem fisicamente na Copa do Mundo, podemos bater qualquer time". Terminada a primeira fase dos grupos, o ítalo-britânico chegou a estar na corda bamba ante rumores de desentendimento entre ele e Terry (desmentidos) e, sobretudo, por não ter ainda conseguido estabelecer um sistema de jogo que faça o English Team ir muito além dos 2 empates nas duas primeiras rodadas, o segundo deles com a inexpressiva Argélia. Os súditos da rainha sentiram-se, neste jogo, mais em casa do que nunca, por ir a campo no estádio que fica na cidade que leva o nome da soberana. Talvez por isso, também, jogaram futebol, vestidos de vermelho. Deus salve a rainha, os jogadores, a comissão técnica e, mais do que ninguém, o Capello! A Inglaterra conseguiu a classificação às oitavas com:
Águia-calva ferra eslovenos Estados Unidos e Argélia, na outra partida do Grupo C, não fizeram jogo menos dramático do que o de eslovenos e britânicos. No Loftus Versfeld Stadium, em Pretória, era o caso típico de tudo ou nada; vida ou morte em termos de classificação. A Argélia foi logo ao ataque e criou duas chances de gol, numa delas a bola explodindo no travessão. Os Estados Unidos responderam com Dempsey, que até marcou, mas o belga Frank De Bleeckere sinalizou impedimento, no mínimo duvidoso, se não mal marcado. Mais um ato terrorista - mas de um belga? Bradley, o filho do técnico, também levou perigo à meta de M´Bolhi, mas o arremate saiu em cima do goleiro, que rebateu e torceu pro chute final ir por cima; Alá é misericordioso! Ao menos dessa vez. Pelas oportunidades criadas, a partida foi equilibrada no primeiro tempo e permaneceu assim por quase toda a etapa final. Aliás, em todo o segundo, sim. Nos acréscimos é o que o bicho pegou, ou seja, a águia bicou. Dempsey conseguiu no tempo normal, em boa trama, mandar a bola na trave direita, pegou o rebote e chutou por cima do gol. O brasileiro Feilhaber por pouco não fez o dele, mas o que conseguiu foi consagrar o goleiro argelino, que defendeu o cabeceio perigoso e ainda abafou a bola na sequência. Nos acréscimos, quando muita gente se acomodaria, Donovan, em contra-ataque, pegou o rebote e fez 1 a 0. Teve tempo para o argelino Yaha ser expulso, e parecia não entender o motivo. Foi o dia de a águia-de-cabeça-branca mostrar a sua força, suficiente para caçar a raposa do deserto. Também chamada de águia-calva (nenhuma referência ao técnico Bob Bradley), símbolo dos Estados Unidos, conhecido em todo o mundo, a sua bicada foi letal nem tanto em cima dos argelinos, mas sobre os eslovenos. Com a vitória por 1 a 0, nesta partida, a Eslovênia, até ali líder do Grupo, foi desclassificada. A seleção de Bob Bradley ainda por cima assumiu o primeiro lugar, classificando-se a equipe de Capello em segundo. Confira como ficou a posição de cada time na chave:
Juventude resolve A Alemanha, depois de estrear bem no Grupo D com goleada de 4 a 0 na Austrália (esses cangurus não vão bem das pernas), se via agora na obrigação de vencer Gana para não depender de nenhum resultado na classificação para as oitavas de final. O equilíbrio do Grupo é ímpar porque até mesmo a Austrália, com apenas 1 ponto em dois jogos, iria enfrentar a Sérvia com chances de subir na tabela, dependendo do que acontecesse com os demais times. Ao contrário da confiança-quase-certeza de Capello, da Inglaterra, o técnico alemão Joachim Löw era reticente: "Argentina, Brasil e Espanha ... Temos um time jovem. Podemos ir longe, mas não estamos entre os favoritos, como esses três". Se a Alemanha empatasse, Gana somaria 5 pontos; mas aí se Sérvia vencesse a Austrália - o que não seria de espantar -, iria para a liderança com 6 pontos. Bola rolando, no Soccer City, em Joanesburgo, com arbitragem do brasileiro Simon, o que se viu foi um jogo equilibrado, com a Alemanha variando mais as jogadas de ataque, com 3 à frente, Cacau um deles, e Gana fazendo prevalecer o seu domínio de bola e a técnica de jogadores como Gyan e Ayew. O meio de campo ganense fazia marcação especial em Schweinsteiger, para evitar que o alemão, experiente, armasse as jogadas de ataque. Os jovens Özil e Müller ficavam mais soltos, um do meio pra direita; outro do meio pra esquerda. E Cacau se movimentava tanto, a ponto de ajudar na defesa. Podolski, nos primeiros 10 minutos, levou perigo ao goleiro Kingson, e numa delas Jonathan Mensah, ao tentar tirar a bola, quase marcou contra, se não fosse o goleiro desviar para escanteio. Cacau fechava no meio da área. Gana chegou a ameaçar aos 13, em boa jogada de Asamoah, pela esquerda, confundindo a defesa alemã, que bateu cabeça e pernas. A bola sobrou para Gyan, que cruzou. A zaga cortou. Cacau, em boa jogada, deixou Özil à vontade para levar a bola, passar pelo seu marcador e, cara a cara com Kingson, chutar em cima do goleiro. Como pode perder um gol desses? Para não ficar atrás, Gyan fez uma das suas, esnobando a marcação com drible desconcertante. Conseguiu escanteio e, na cobrança, Lahm tirou de peito a bola que entraria rente ao segundo pau. Cacau e Schweinsteiger ainda obrigaram o goleiro ganense a trabalhar: o brasileiro, ao concluir, mesmo diante de dois adversários, para Kingson cair e segurar firme; o 10 alemão, em cobrança de falta, já aos 40, chutou forte em direção ao canto esquerdo, para outra importante defesa do goleiro. As chances de gol (5 a 3), as faltas (apenas 3 de cada lado), os escanteios e mesmo os cartões amarelos dão a exata noção do equilíbrio no primeiro tempo, que terminou 0 a 0. Na combinação desse resultado com o da outra partida, Gana e Alemanha se classificavam. No segundo tempo, Gana voltou com mais variação no ataque, tanto que Gyan passou a atuar pela esquerda. Mas a blitzkrieger poderia acontecer a qualquer minuto. Numa das subidas da Alemanha ao ataque, Pantsil espanou o taco, a bola ficou perigosamente na área porque o goleiro saiu errado, e o que valeu foi o espaço estar congestionado, dificultando a finalização a gol. Gana se fechava em sua área com até 8, como é comum se ver nesta Copa. Mas quando atacava, punha chucrutes pra dançar, como em jogada de Gyan. Lahm deu o troco, ao recuperar a bola e sair pro jogo com categoria. O equilíbrio do primeiro tempo persistia, até que Özil, aos 14, recebeu passe na medida de Müller, da direita, e acertou o pé, em finalização precisa, à meia altura, no canto direito de Kingson. Com o gol a Alemanha passou a liderar o Grupo. Em resposta, Gana conseguiu dois escanteios no mesmo minuto, aos 16, e começou a fazer substituições para dar consistência na marcação, com a entrada de Muntari. A Alemanha colocou Trochowski, que, zero bala, fazia boas triangulações com Özil e Cacau. Numa das arrancadas do brasileiro, já na área ganense, teve até drible da vaca, com a bola rolada para Podolski encher o pé, de fora da área, e a bola explodir no queixo de Sarpei; quase nocaute. O jogo ficou complicado para Gana com o que se passava no duelo de australianos e sérvios. No banco de reservas ganense, a confabulação era visível, com jogadores fazendo contas nos dedos, certamente sabedores de que a Austrália surpreendia, ao marcar duas vezes. Nada que tirasse a concentração de quem estava em campo. O resultado deixou a Alemanha em primeiro e Gana em segundo. Os responsáveis pela classificação são os seguintes times:
Cangurus surpreendem Austrália e Sérvia, no Mbombela Stadium, em Nelspruit, com arbitragem sofrível do uruguaio Jorge Larrionda, fizeram um jogo também equilibrado, com a diferença de os sérvios criarem suas chances de gol já no primeiro tempo, com Zigic, e os australianos só acordarem no segundo. O jogo terminou em 2 a 1 para a Austrália, resultado que desclassificou as duas seleções e tirou a esperança de os europeus conseguirem somar um pontinho com gols que os levassem ao segundo lugar. Imagina o sofrimento dos ganenses. Os australianos, como fizeram 2 a 0, poderiam – se marcassem mais 2 gols – ficar com a vaga para si. A chave estava bem-embolada. Cahill fez o primeiro gol dos cangurus, ao cabecear firme no canto direito de Stojkovic. O segundo foi um golaço, da intermediária, com a bola indo parar também no canto direito do goleiro sérvio. Brett Holman recebeu, livre, de Culilna e não perdoou. Pantelic descontou para a Sérvia, aos 38, em chute certeiro de direita. Os sérvios reclamaram muito da arbitragem por impedimentos, no mínimo, duvidosos, assinalados por Larrionda e pela não marcação de pênalti. O que poderia ter feito a diferença. Os milhões que valem
Baú de surpresas
Frases
Na estrada com Valquíria
Por hoje, é isso. Lembro que o texto desta coluna sai também no sitewww.cliqueabc.com.br fotos: getty images charge; aroeira |