Tranquilos leitores, os soldados de Dunga estão em Durban, cidade portuária conhecida por sua pujança econômica, nem sempre acompanhada pela social que se reflita em toda a África do Sul. Estamos chegando lá; como diria o Zagallo: só faltam 4... Nesta sexta (25) enfrentam os lusitanos, que em priscas eras fizeram de seus portos o ponto de partida das suas conquistas. Numa delas, descobriram a gente. Dizem que foi meio sem querer: as naus capitaneadas por Pedro Álvares Cabral, cujo assessor de Imprensa era Pero Vaz de Caminha, já estariam tão próximas da praia que, ao sopraire uma ventania dus diabos, a areia bateu feio nos olhos do vigia lá do topo dos mastros. Aos berros do infeliz: "terra na vista, terra na vista", alguém acordou e deu de cara com o que viria a seire o Bresil. Todo cuidado é pouco, ora pois. Do mar para o campo de futebol, passados tantos séculos em que os portugueses saíram à procura do caminho das Índias, e acharam as nossas, está na hora de descobrirmos o caminho das redes d´eles. Ainda bem que no elenco canarinho também há gajos, cá conhecidos como ratos de praia, casos de Robinho, revelado em cidade portuária, e Júlio César, da já chamada cidade maravilhosa, entre outros. Já pensaram se o camisa 11 desencanta, tal qual o gênio que vestiu a 11 no primeiro título mundial brasileiro; ele, mesmo, o Mané Garrincha? Aliás, a Copa chega num momento em que muito jogador que costuma decidir partidas em seus clubes, e até mesmo em seleções, ainda não explodiu. Já pensaram se todos estes - Kaká, Rooney, Klose (toc! toc! toc!), Messi (bate na madeira de novo!), Robben - redescobrissem o seu melhor futebol ao mesmo tempo? Aí, sim, a Copa começa. E nós chegamos à 20a. edição da coluna. Não sei por que acham tão difícil chegar ao hexa! Bota furada Quem diria, a seleção do leste europeu ganhou na bola e na raça e despachou a da bota na partida mais dramática da Copa até agora. Os 3 a 2 da Eslováquia sobre a Itália até ficaram barato porque, a certa altura, os eslovacos diminuíram um pouco o ímpeto de seus ataques. Antes do início da competição, em entrevista ao Guia da Copa 2010 Placar, Marcelo Lippi disse que a graça da Copa do Mundo é que revelações, bom e mau rendimento serão avaliados durante a competição. Deve ser por isso que o técnico da azzurra aceitou comandar a seleção italiana pela segunda Copa seguida, por acreditar que seria possível conquistá-la de novo. Aceitou o desafio e perdeu - coisas do futebol. Mal sabia ele que, em seu caminho, a Eslováquia confirmaria o que argumentou na entrevista. A Itália dificilmente chegaria a líder do Grupo F, nesta quinta (24), porque o Paraguai já estava com 4 pontos, ao término da segunda rodada, e enfrentaria a zebra da chave, a Nova Zelândia. A seleção de Lippi, por sua vez, encararia a última colocada na tabela, a Eslováquia. Era quase certo que as posições das duas seleções que passariam às oitavas de final não se alterariam: Paraguai e Itália. Só restava saber com quantos pontos as duas fechariam a primeira fase da competição. Esta, para Lippi, tão importante e surpreendente que as diferenças se veem dentro de campo. Diferença mesmo: a Eslováquia foi mais time que a Itália, num jogo disputadíssimo e muito faltoso de ambas as equipes. Numa das entradas mais duras, Gattuso abriu, não o placar, mas o joelho de Strba.Não sei por que, mas Gattuso, para mim, simboliza a raça, mas com aquela faccia bruta teria de adotar o nome: Gennaro – tem mais cara de Gennaro, eco! O meio-campo eslovaco Strba já estava para ser substituído, aos 40 do primeiro tempo, mas da lateral do campo pediu pra voltar. A raça eslovaca foi apresentada no Ellis Park, em Joanesburgo. A difícil missão da Eslováquia ante a tradição italiana e o poderio da seleção - tetracampeã e detentora do título mundial, ainda mais ocupando a equipe do leste europeu a última vaga na chave até este jogo, com apenas 1 ponto conquistado e saldo negativo de 2 gols - foi cumprida com doses de raça e superação. Firme e forte na defesa, em que não era raro contar com 8 jogadores em sua área; atenta, sem perder a técnica no toque de bola no meio de campo; e veloz no ataque, a Eslováquia teve em Vittek o seu goleador (foram dele os dois primeiros) e em Kopunek o predestinado, ao fazer o terceiro gol eslovaco logo depois de entrar. A Itália esteve longe dos melhores momentos da azzurra tetracampeã do mundo, e no quesito que mais pecou foi na lentidão de sua saída de bola (Zambrotta custou a ir ao apoio, também porque seu setor foi muito bem bloqueado pelo esquema de Wladimir Weiss), bem como na bobeira geral de sua defesa. A Eslováquia sofreu pressão mesmo da Itália nos estertores da partida. Mas aí já era tarde, nos 5 minutos de acréscimo. Lippi, a certa altura, era a imagem de toda tensão do mundo, com as mãos na nuca numa automassagem que lhe garantisse a calma necessária; Buffon, no banco de reservas, esfregava os dedos das duas mãos; Gattuso, que saíra, olhava entre incrédulo e tifoso a derrocada da atual campeã. Nem Pirlo pode fazer muito pela azzurra. Os gols saíram aos 24 do primeiro tempo, com Vittek mandando a bola à direita do goleiro italiano, ao receber livre, numa das bobeadas da marcação; aos 28 do segundo tempo, Vittek, de novo aproveitando um dos tantos vacilos da azzurra - havia 7 italianos na área na cobrança de escanteio -, colocou fácil no canto esquerdo de Marchetti. A Itália descontou com Di Natale, aos 35, com o gol escancarado à sua frente depois de boa tabela Quagliarella-Iaquinta. Aos 44, Kopunek marcou o terceiro da Eslováquia, que passou a sofrer a pressão que a torcida italiana esperava o jogo todo. Quagliarella encobre Mucha, que se estica todo, mas não consegue evitar o segundo gol italiano em chute de longe. Lippi levou para a África do Sul um grupo mesclado de nomes consagrados e jovens talentos (apenas 2 deles não jogam em clubes italianos), alheio a reações de torcedores e imprensa. Polêmicas existem sempre, lembra il capo, e muitas mais virão. Avanti, azzurri!!! Quem sabe até a próxima, aqui. A equipe que levou a Eslováquia às oitavas é esta:
Cavalo manso No outro confronto do Grupo, Paraguai e Nova Zelândia fizeram um jogo em que qualquer vacilo dos sul-americanos poderia representar a sua eliminação da Copa. Os neozelandeses, como franco-atiradores, se conseguissem uma vitória, somariam 5 pontos e passariam os paraguaios. Acabou em 5 pontos para os guaranis, que empataram por 0 a 0 e se mantiveram em primeiro lugar na classificação, sem se esforçar muito. O cavalo paraguaio pode ser manso, mas despachou a zebra. No primeiro tempo, foram duas oportunidades criadas pelo Paraguai, sem maior perigo: uma em chute por cima do gol neozelandês e outra em conclusão nas mãos de Paston. A Nova Zelândia, toda de preto, ameaçou no segundo tempo, mas a pontaria de seus atacantes não é o seu ponto forte. Para não deixar dúvidas, os paraguaios chegaram à área adversária, com perigo, numa cobrança de escanteio, em que o goleiro saiu bem e rebateu a bola, sem aproveitamento do rebote. Roque Santa Cruz foi quem iniciou a jogada mais aguda no ataque, não como finalizador. Dominou a bola pela esquerda e colocou-a no miolo da área; Paston saiu mal do gol, deixou a jabulani aos pés de Barrios, que não acreditou no presente. Era só ter cutucado pro gol. O Paraguai já participou de 8 Copas, chegou às oitavas em 3 delas (1986, 1998 e 2002) e faria de tudo para superar esse desempenho. Na África do Sul conseguiu a sua quinta vitória nessa competição fora das Américas. Agora, volta a disputar as oitavas e quer mais. Bem diferente é a situação da Nova Zelândia, com apenas duas participações em Copas (1982 e nesta) com 4 gols marcados até esta quinta (24). Em sua camisa traz as cores da zebra e um raminho de esperança (acredito) no escudo. Na Copa da Espanha sua participação foi de lascar, ao não passar da primeira fase, mas não precisava exagerar, aos ser goleada por 4 a 0, 5 a 2 e 3 a 0 pelo Brasil, Escócia (meu Deus!) e União Soviética. Não é sem motivo que o especialista Jeremy Reez, do New Zeland Herald, escreveu no Guia Lance Copa 2010: "Apesar de a Nova Zelândia estar classificada para a Copa do Mundo, o futebol ainda não se firmou por aqui. O rugby segue como sendo o esporte predileto da nação. As expectativas não são boas. A chave é complicada e faz com que a seleção não sonhe muito, já que a Itália e o Paraguai são considerados favoritos para as duas vagas do Grupo". Com uma projeção assim, até que os neozelandeses não fizeram tão feio: saíram sem tomar goleadas e até mesmo empataram por 1 gol com a Eslováquia e a Itália; e agora ficaram no 0 a 0 com o líder do Grupo. Os paraguaios classificaram-se com esta equipe:
Confira como ficou a classificação:
Camarão na moranga Se a Holanda é laranja, e a moranga tem esta cor, a opção do dia na rodada que encerrou o Grupo E só poderia ser Camarões na moranga. Mas ô camarãozinho duro de preparar esse da Copa, pra colocar na moranga. No jogo considerado por especialistas como um amistoso de luxo, a Holanda veio com uniforme menos vistoso e só chegou ao primeiro gol aos 35 do primeiro tempo, como se seus jogadores estivessem na sala de visitas para servir o prato: Van Persie recebeu de Van der Vaart, entrou na área, pela direita, e mandou a bola no canto oposto de Hamidou. No segundo tempo, Eto´o teve a chance de empatar, de pênalti, bem cobrado com a direita, e não desperdiçou. Camarões ia ao ataque, sem medo, tanto que a falta na área holandesa foi cometida por Van der Vaart, que ajudava na marcação. Huntelaar, em boa troca de passes, finalizou com a direita e ampliou para 2 a 1, garantindo a Holanda entre as seleções que estão 100% até aqui. Louve-se a seleção que veio com o time que eu considero titular (até Robben fez a sua estreia, aos 27 do segundo tempo), não entrando no clima de já ganhou e nem precisaria desgastar os seus atletas. Vale muito mais a pena manter os jogadores em atividade, mesmo porque a competição é de tiro curto. Camarões, infelizmente, dos times africanos foi o que mais me decepcionou porque não lembra aquele de Roger Mila, que empolgou torcedores e cronistas esportivos por algum tempo. Uma pena que tenha restado apenas Gana, com méritos, para representar o continente nas oitavas. A Holanda foi pras oitavas graças a:
Robôs azeitados Na comparação "Dinamáquina" e robôs japoneses, quem se saiu melhor foi a equipe da terra do sol nascente, com os 3 a 1 desta quinta (24), no Royal Bafokeng Stadium, em Rustemburgo. Com três golaços - dois de falta, aos 17 e aos 30 do primeiro tempo; e um em bela triangulação, no segundo -, Honda, Endo e Okazaki sacramentaram a classificação da sua equipe às oitavas, fazendo prevalecer o seu melhor conjunto em campo. Tomasson descontou em cobrança de pênalti, mas precisou contar com o rebote de Kawashima para mandar a bola pra dentro. A Dinamarca atacou mais nos 10 minutos iniciais, mas faltou objetividade nas conclusões. O que se repetiu no segundo tempo. O técnico Olsen parecia mais Ursen de tão bravo que ficou no banco de reservas. Fez as substituições corretas, que ajudaram a equipe a não jogar a toalha, mas insuficientes para virar o placar a seu favor. Empate também classificava o Japão. Os dois gols de falta japoneses devem ser resultado da passagem do Galinho por lá. Na primeira, Honda mandou a bola, da direita, cruzado para o canto oposto de Sorensen, com a jabulani indo dormir nas redes laterais, bem baixo. Quando todos esperavam, na barreira dinamarquesa, que o camisa 18 fosso cobrar a segunda falta, foi Endo quem chutou, frontal, no canto esquerdo do goleiro, que se esticou todo, sem sucesso. O terceiro gol japonês foi uma pintura: Okubo lançou Endo, que já na área deu um drible desconcertante de calcanhar em Jacobsen e deixou Okazaki livre para empurrar para as redes. O Grupo E tinha apenas 2 das 4 equipes em condições de decidir quem passaria às oitavas de final com a Holanda. Restava a esta tão-somente definir se somaria mais 3 pontos para fechar a primeira fase 100%, missão até certo ponto facilitada por enfrentar a seleção camaronense já sem chances de classificação. A Dinamarca, quando pode, aplica goleadas históricas, como a de 6 a 1 no Uruguai na primeira fase da Copa de 1986, realizada no México. Já teve em seu elenco algo raro de se ver: dois irmãos bons de bola, os Laudrup - Michael e Brian, o primeiro mais experiente, que dividiram as atenções da torcida na Copa da França, em 1998. Se sabem ir ao ataque, os dinamarquesas mostraram nas Eliminatórias para a África do Sul que também conseguem se fechar bem; sofreram apenas 5 gols. Nesta quinta (24), de pouco adiantou a performance. O Japão, que desde 1998 até agora acumula participação em todas as Copas, se saiu melhor na de 2002, que sediou com a Coreia do Sul; chegou às oitavas, líder de sua chave, mas foi eliminado pela zebraça da competição, a Turquia. Emplacou o nono lugar na competição. Seu ponto forte é a disciplina tática, aliada à rápida saída de bola da defesa para o ataque. Empatadas até a rodada decisiva em número de pontos e vitória, sem empate, apenas o saldo negativo de 1 gol da Dinamarca deixava os europeus em desvantagem sobre os asiáticos. A equipe que classificou com méritos o Japão é:
A classificação do Grupo ficou assim: Frases da Copa
Por hoje, é isso. Lembro que o texto desta coluna sai também no sitewww.cliqueabc.com.br fotos: getty images, aft, reuters charge; jb, sinovaldo, dácio, junião |
25 de junho de 2010
A SELEÇÃO CHEGOU AO PORTO D
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