9 de junho de 2010

A SELEÇÃO CHEGOU A FAVORITA DE MESTRES

Nino Prata
82 Eruditos leitores, enquanto a jabulani não rola oficialmente em gramados sul-africanos, os soldados de Dunga tiveram um dia de folga, em que poucos deixaram o quartel; alguns foram às compras; e o churrasco à Taffarel foi o prato do dia, regado a cerveja e pagode. Não sei se o Centro de Tradições Gaúchas aprovaria a dobradinha churrasco-pagode. Vai que a carne desce torta...

Palavra de mestre não volta atrás e pesa mais que a de outros pobres mortais. Franz Beckenbauer, o Kaiser, campeão mundial como jogador em 1974 e como técnico em 1990, é um desses mestres. Numa entrevista, há tempos, revelou que quase desistiu de jogar futebol quando, certa vez, viu Pelé em campo. Os dois deviam ser, então, jovenzinhos. Ainda bem que Beckenbauer comprovou ser alemão mesmo; estes não desistem nunca em campo. Podem jogar até prorrogação com a disciplina tática de sempre e... chutam de longe.
marcoaurelio_zerohora

O Kaiser disse em Joanesburgo, em entrevista ao Diário de S. Paulo, que o Brasil "é uma seleção muito forte, como mostram os resultados. Dunga faz um bom trabalho, e os jogadores têm um espírito de competição aguçado.

Certamente o Brasil entra como favorito". Não sem lembrar que a Espanha também leva jeito, e a Alemanha vai ter de ralar mais.

Zico e Cruyff também estão por lá. Um trio de mestres que parece ter combinado o que falar - imagina esses três juntos num time! Para o Galinho, o selecionado canarinho "é um time muito forte e com grandes chances de ser campeão". Já o craque holandês, embora mais comedido, nos coloca lá: "Há uma inversão de papéis: os brasileiros jogam hoje à maneira europeia, e os espanhóis exibem um estilo técnico. Ambos são fortes".

Chama atenção na declaração dessa santíssima trindade ludopedista o uso do mesmo adjetivo para se referir aos soldados de Dunga: FORTES. Tomara que seja o suficiente! E dois deles citam também a Espanha como candidatíssima ao título. Tomara que queimem a língua!

 Eu, que não sou mestre nem nada - sou apenas imortal, como dizia Plínio Marcos, por não ter onde cair morto -, já deixo claro antes que me perguntem: se não der Brasil, que dê Holanda, que há tempos merece vencer uma Copa, e a meu ver é a única seleção que apresentou algo revolucionário no futebol que jogava em 1974, em que - à exceção do goleiro - ninguém guardava posição. E todos se saíam bem...

De mestres do gramado a um mestre da mídia, lembro que neste ano de Copa nos deixou mestre Armando Nogueira, reconhecido nesta categoria por colegas e por atletas, técnicos e um número diversificado de pessoas de outras áreas. Às vésperas da Copa de 2006, Fiori Gigliotti, que já se preparava para cobri-la com a mestria de sempre, viajou fora do combinado; durante a competição, o humor brasileiro perdeu Bussunda.

Esta coluna, mais que um aquecimento final para o início dos jogos, faz aqui reverência a mestres como os citados que ensinam sobre o futebol e a vida.

CURTAS

  • Pelé, mestre dos mestres do gramado, chega a dizer que todo o time do Santos poderia estar na Copa, com o argumento de que joga um futebol bonito (concordo) e ganhou o Campeonato Paulista (discordo).

Menos, majestade! Afinal, vivem dizendo por aí que campeonato regional não vale pra nada; e já teve jogador (se não me engano, Paulo Nunes, que literalmente era mascarado - vestiu a de feiticeira, entre outras máscaras para comemorar gols) que chegou a se referir a esta competição como "paulistinha". Eu, se sou diretor da Federação, peço pra banir um atleta desses do quadro da entidade. Campeonatos regionais têm peso igual ou maior que qualquer outro, mas nem tanto ao mar (Santos é do litoral) nem tanto à terra (Paulo Nunes é do cerrado).

  • Sobre Pelé, aliás, vale a pena relembrar o que disse Armando Nogueira: "... é tão perfeito que se não tivesse nascido gente, teria nascido bola". A perfeição, para Armando, estava na futebol: "A tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus".
  • Meu filho me faz até hoje algumas perguntas recorrentes, como: "quem teria sido o melhor jogador?; qual a seleção de todos os tempos?". No primeiro caso, costumo dizer que, pra mim, Pelé é completo, e  Garrincha é gênio porque fazia praticamente sempre a mesma jogada e levava vantagem sobre os joões... Sobre este, olha só o disse mestre Armando: "Para Mané Garrincha, o espaço de um pequeno guardanapo era um enorme latifúndio".
  • A minha seleção de todos os tempos teria no elenco dois que não conseguiram o mundial. Confiram: Gilmar dos Santos Neves; Carlos Alberto Torres; Oscar e Luíz Pereira; Nilton Santos; Clodoaldo; Didi, Zico; Garrincha, Romário e Pelé. Admitem-se algumas variações... Mandem outras seleções, que a gente publica!!!  
  • Na coluna que praticamente é toda voltada a mestres, lembro que, neste ano, os jogadores da Seleção de mestre Telê, de 1982, receberam do Lance - a meu ver, merecidamente - a faixa e o certificado de "Campeão Mundial do Futebol Arte". Acredito que o próprio mestre foi representado pelo filho.
  • Finalizo com Armando Nogueira, que tanto nos assuntos que dizem respeito às quatro linhas quanto nos demais, se pautou pela ética e pela coragem, nos anos de chumbo, principalmente, sem perder o humor: "Anúncio: troco dois pés em bom estado de conservação por um par de asas bem voadas". E sem deixar de ser crítico: "Os cartolas pecam por ação, omissão ou comissão". 
  • EM TEMPO, me permitam compartilhar mais duas pérolas de mestre Armando: 

Sobre Nilton Santos: "Tu, em campo, parecias tantos, e no entanto, que encanto! Eras um só, Nílton Santos".

E sobre Zico: "A bola é uma flor que nasce nos pés de Zico, com cheiro de gol".

Por hoje, é isso.
Mensagens para esta coluna devem ser enviadas para ninoprata@yahoo.com.br
charge: marco aurélio – zero hora

Lembro que o texto desta coluna sai também no site www.cliqueabc.com.br

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