Nino Prata Ínclitos leitores, "Brasil está vazio na tarde de domingo, né? Olha o sambão, aqui é o país do futebol" diz a música de Milton Nascimento e Fernando Brant, cantada por ninguém menos que Elis Regina. Hoje resolvo dar um descanso a nossos bravos soldados de Dunga, mas lembro que o general, em represália à repercussão do entrevero entre Daniel Alves e Júlio Baptista, resolveu fechar o treino de sábado aos jornalistas. Se segredo ganhasse jogo, o time da penitenciária - hoje as temos até de segurança máxima (RSRSRS) - ganhava todas as competições. Bem no domingo, 13, a tabela da Copa começa de lascar: Argélia e Eslovênia se enfrentaram, às 8h30 da madrugada daqui, no Peter Mokaba Stadium, em Polokwane. Acho melhor a gente saber um pouco dessas seleções, com base em informações dos Guias Lance e Placar Copa 2010, antes de entrar no confronto propriamente dito. Duas seleções inexperientes A seleção argelina, 31a. no ranking da Fifa, é a mais francesa das africanas na Copa, com a maioria de seus convocados originários da Europa. Nesta de 2010, completa sua terceira participação no torneio (foi 13a. em 1982 e 22a. em 1986). A Argélia já teve seu Zidane, Djamel, que jogou as Copas de 1982 e 1986 com os africanos. Seu filho famoso, Zinedine - o da cabeçada em Materassi, na final da Copa de 2006 -, defendeu com mestria os bleus. Na África do Sul, agora, o astro francês promete torcer para os argelinos - até que fase? Para o especialista Abdelghani Aichuon, de La Tribune, citado no Guia Lance Copa 2010, "ter conquistado o direito de disputar a Copa do Mundo deu ao povo argelino uma alegria da mesma intensidade de quando a equipe venceu a Copa da África. Só que o grupo em que a Argélia foi sorteado conta com fortes adversários: Inglaterra, Estados Unidos e Eslovênia. A dificuldade fará com que os dedicados jogadores se dediquem ainda mais para fazer ainda mais história pela nossa seleção". A Eslovênia, país do leste europeu, sempre teve autonomia no futebol - mesmo com a criação da Iugoslávia, em 1929, reunindo mais 5 repúblicas (Bósnia-Herzegovina, Croácia, Macedônia, Montenegro e Sérvia). O esporte foi levado até lá por húngaros e austríacos, em 1900. A Federação Eslovena de Futebol é de 1920, ano em que foi disputado o primeiro campeonato nacional. Dissolvido o bloco socialista das 6 repúblicas iugoslavas, na década de 1980, a Eslovênia tornou-se independente em 25 de junho de 1991, mas antes disso sua seleção estreou vencendo a da Croácia por 1 a 0. De lá para cá, o futebol evoluiu no país, conquistando a preferência popular, reforçada em participações na Eurocopa de 2000, Copa do Mundo de 2002 e agora na de 2010. Tem apenas 2 gols na competição, para a qual se classificou na repescagem nas duas edições. Ocupa o 23o. lugar no ranking da Fifa. No estádio Peter Mokaba, em Polokwane, as duas seleções ficaram no 1 a 0, para a Eslovênia, numa partida em que oportunidades de gol foram criadas com parcimônia e quase sempre em cobranças de falta ou escanteio. O jogo, horroroso, ou melhor, a pelada ficou mais feia ainda aos 31 do primeiro tempo, com a agressão de um argelino, em cotovelada desferida no rosto de um esloveno, em lance sem bola na área adversária. E ficou por isso mesmo; quem viu foi só a câmera - e Blatter ainda se recusa a usar recursos eletrônicos em casos extremos. Pouco depois, Radosavljevic tomou uma bolada na cara, em jogada grotesca de um argelino que tentava tomar-lhe a bola, numa forte pernada pelo alto; quase foi a nocaute. Chute a gol, mesmo, só aos 41 num arremate de Birsa, de fora da área, para espetacular defesa de Chaouchi, espalmando para escanteio. Um dos tantos que resultou em nada. Enquanto tomava um cafezinho caseiro no intervalo, pensava: coitada da jabulani! Nesse confronto de zebras da Copa, só toma coice. Bem que Felipe Melo chegou a comparar a redonda com patricinhas, ou seria mulher de malandro? A síntese do índice de inexperiência dos dois times foi o camisa 9, Ghezzal: entrou no segundo tempo para ajudar a Argélia a mudar a história, vista da tribuna de honra por Zinedine Zidane. Mas, em 4 lances de que participou, recebeu amarelo, no primeiro, por segurar um esloveno pela camisa; não demorou muito, invadiu a área adversária com disposição, subiu alto e a mão dele, mais ainda, ajeitou a bola para a tentativa de arremate. Levou o segundo amarelo e mais o vermelho. Deve ter-se inspirado no uruguaio Lodeiro, que inaugurou a distribuição de cartões vermelhos na competição, em tempo de jogo semelhante. Era o presente que a Eslovênia queria, ao ficar com um jogador a mais. Não demorou, e aos 34, Koren, de fora da área, chutou sem maiores pretensões, a bola indo mansa, e Chaouchi engoliu o segundo frango da Copa. Não tão suculento como o da inauguração da rodada do Grupo C. A Eslovênia agradece a força dos frangueiros de sábado e de domingo, que colocou a sua seleção na liderança. Zebra por zebra, prevaleceu a esverdeada eslovena. Mais duas quase no mesmo nível Eu estava com o pressentimento de que na partida de abertura do Grupo D, logo mais, no Loftus Versfeld Stadium, em Pretória, em outro confronto de europeus do leste e africanos, Sérvia e Gana não acrescentariam muita coisa a favor do futebol e de seus apreciadores. Sérvios e ganeses, 16o. e 32o. no ranking da Fifa, respectivamente, judiaram menos da jabulani. Os africanos, com domínio e toque de bola mais apurados; os europeus do leste privilegiando a força física, sobretudo na marcação. Não que os jogadores de Gana amaciem nas divididas. Aos 18 do primeiro tempo, Zigik recebe cartão amarelo ao parar avanço cadenciado de dois adversários, na esquerda; aos 25, Vorsah também mereceu o dele, ao dar carrinho por trás em atacante sérvio. Na cobrança da falta, os europeus mostraram que também são cerebrais: em jogada bem ensaiada, faltou a técnica para o domínio da bola e o arremate, já na área ganesa. Quatro minutos depois, em cobrança de falta direto pro gol, deram a entender que ainda são versáteis, sobretudo Stankovic e Kolarov, que dividem a responsabilidade por esses arremates. Pantelic, aos 32, avançou bem e conclui mal o chute pela sua esquerda, com a bola indo morrer nas redes, mas pelo lado de fora. A Sérvia variou mais as suas jogadas de ataque, enquanto Gana abusava dos cruzamentos, benfeitos e mal concluídos, quando não rebatidos pela implacável zaga sérvia. Aos 38, Stankovic mandou o chamado míssil e quase complica a vida de Kingson, que defendeu no susto, em dois tempos. No segundo tempo, aos 14, Asamoah devolveu o susto ao time sérvio, quando subiu no 5o. andar em cabeceio que foi triscar na trave, para desespero de Stojkovic. Aí o jogo começou a entrar na fase das substituições, a começar pela Sérvia, mas aos 21 Lukovic pôs vinagre a mais no seu próprio tempero, ao tomar o segundo amarelo e ser expulso. Mesmo assim, foram da Sérvia as três chances de gol, a partir dos 33, em que Kingson salvou a pátria ganesa em duas defesas precisas: a primeira em chute à queima roupa e, na segunda, ao desviar cruzamento da esquerda do ataque sérvio. Aos 36, em mais um arremate, este de fora da área, Kingson desviou de ponta de dedos por cima do travessão. O goleiro ainda iniciava os contra-ataques, rápidos. Não bastasse estar com um jogador a menos, a Sérvia viu Kuzmanovic fazer pênalti, aos 37, ao desviar com a mão cruzamento perigoso, na sua área. Ainda bem que o juiz argentino viu o lance irregular também. Gyan bateu forte, no alto do canto à direita do goleiro, e converteu o primeiro pênalti da Copa em um bom resultado para as pretensões ganesas. Restou aos sérvios irem ao ataque, como desse, e propiciarem mais contra-ataques de Gana. Num deles, a conclusão do ataque africano foi perigosa, com a bola passando rente à trave esquerda de Stojkovic, ainda não refeito do gol que tinha sofrido; no lance o juiz deu amarelo ao jogador de Gana, por entender erradamente que ele havia matado a bola com a mão. Foi mais no grito dos sérvios, que deram uma de bandeirinha. Aos 46, Gyan assustou de novo a zaga sérvia, ao dominar bem a bola e chutar cruzado: caprichosamente a jabulani, cansada de receber críticas injustas, ou ser maltratada em campo, bateu na trave e voltou pro campo de jogo. Não havia mais tempo pra nada, a não ser aguardar a comemoração, como se fosse de título, tanto dos jogadores africanos quanto da colorida e ritmada torcida ganesa. Chucrutes salvam o domingo Jô Soares costuma dizer, e pelo jeito tem comentarista esportivo que concorda com ele, que "os alemães são aquele povo que joga algo parecido com futebol". Se isso for verdade, está errado o futebol, não a Alemanha, que neste domingo (13) aplicou a primeira goleada da Copa, ao bater a Austrália por 4 a 0, em Durban. Finalmente, uma cidade que dá o próprio nome ao estádio. Belíssimas imagens chegam até nós tanto do estádio como da cidade portuária. Pelas praias e até por ser chamada de cidade dos 365 dias de verão, ali os australianos deveriam sentir-se à vontade. Mas quem ditou o ritmo do jogo foram os alemães. Os gols saíram com naturalidade, de Podolski, Klose, Müller e Cacau -, nascidos de jogadas rápidas e passes precisos. Müller, uma das apostas do técnico Joachim Löw, assim como Özil, Martin, Cacau (este brasileiro, nascido em Santo André, no ABC Paulista), entre outras jovens revelações, formam com os experientes Klose, Lahm, Schweinsteiger, Mertesacker (Galvão Bueno chamou o becão de tudo, menos do jeito que tem de ser, com todas as letras no lugar certo) uma seleção que, mais uma vez, pode brigar pelo título. Não é por acaso que a Alemanha, em 17 edições da competição, é tricampeã do mundo, em 7 finais das quais participou, sediou duas Copas, tem o segundo maior artilheiro daa Copas (Gerd Müller) e briga para superar, nesta, a marca de 15 gols de Ronaldo Fenômeno. Façanha para a qual Klose deu o primeiro passo ontem, ao marcar um dos 4 da goleada. Só não gostei do que li, como saído da boca do técnico alemão: "Eu quero que a gente consiga humilhar os adversários. Tenho a consciência tranquila de que fizemos até agora tudo o que deveríamos ter feito". Até agora, mesmo!!! Não há por que humilhar alguém, nhô Quim! Onde iria parar o flairplay? Basta jogar futebol, à maneira tedesca, pelo que vi neste jogo aprimorada a ponto de a Austrália não ameaçar a meta de Neuer, ter Cahill expulso por entrada violenta em Schweinsteiger (o primeiro cartão vermelho desta Copa aplicado, de cara, sem necessidade de advertência com o amarelo), além de ficar com outros quatro jogadores amarelados. Enquanto isso, sua seleção se deu ao luxo de estar no final da partida com 4 atacantes, como se quisesse ampliar o marcador. Pelo cartão de visitas, a estréia alemã no segundo jogo do Grupo D deve ser motivo de análise dos adversários imediatos e dos que podem cruzar o caminho dos selecionados da Bundesliga - todos jogam em times alemães e têm a menor média de idade de todas as 17 seleções da Alemanha que estiveram em Copas. Quando será que teremos, no Brasil, um técnico corajoso ao ponto de formar uma seleção canarinho só de jogadores brasileiros, atuando em equipes daqui? Frases da Copa "A cerimônia de abertura da Copa rolando, e a Globo passando Ana Maria Braga. a vovózela" (Twitter @microcontos-toscos) "Quis prestar uma homenagem aos brasileiros. Tenho certeza de que vocês serão campeões." (Matk Hovy, funcionário público sul-africano que criou a trombozela, combinação de trombone e vuvuzela. Com ela conseguiu arrancar sorrisos de Dunga, acreditem) "A Argentina... sofreu por falta de contundência" (manchete do jornal La Nacion) Na estrada________________________________________________________ As frases que vêm a seguir rolam na internet como alternativas ao que foi escrito nos ônibus oficiais das delegações. Confira algumas:
Por hoje, é isso. Lembro que o texto desta coluna sai também no site www.cliqueabc.com.br fotos: ebc |
13 de junho de 2010
A SELEÇÃO CHEGOU A MERECIDO DESCANSO
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