14 de junho de 2010

A SELEÇÃO CHEGOU NO LIMITE DO RESPEITO

Nino Prata

 Clipboard01 Jocosos leitores, às vésperas da estréia do Brasil na Copa, o general Dunga endurece com os jornalistas por dois dias seguidos, ao fazer treinos fechados também no domingo. Brigar com a Imprensa - que ainda acredito ser o quarto poder - não faz sentido, e temos triste memória a respeito.

Em 1974, os jogadores chegaram a lançar manifesto e não atendiam jornalistas brasileiros. Deu no que deu; fomos eliminados pela Polônia, num gol do veloz ponta-direita Lato, que entre outros estragos resultou na agressão do goleiro Leão ao lateral-esquerdo Marinho Chagas, que ia muito à frente e não dava conta de voltar.

Contra a Holanda, a Laranja Mecânica, sensação daquela competição, tomamos um vareio, mas pelo menos não perdemos de goleada (2 a 0), a exemplo dos hermanos (4 a 0). Quem perdeu a cabeça foi Luiz Pereira, que ao ser expulso saiu mostrando o escudo brasileiro na camisa à torcida, como que exigindo respeito à amarelinha, que aliás naquele dia era azul.

Respeito, no futebol, se conquista em campo. O jogo de estréia da Seleção de Dunga é nesta terça (15). Tomara que Gilmar dos Santos Neves baixe em Júlio César; Carlos Alberto Torres em Maicon; Oscar em Lúcio; Luiz Pereira em Juan; Nilton Santos em Michel Bastos; Clodoaldo em Elano; Didi em Felipe Melo; Zico em Gilberto Silva; Garrincha em Kaká; Romário em Luís Fabiano; Pelé em Robinho.

Vai ter gente achando que aí já pedir demais.

Na terça, ante a Coréia do Norte, que todos joguem bola, sem frescura e estrelismo, com objetividade, técnica e pontaria. 

AUTO_sponholz

Show de talentos

image Ao entrar no Soccer City, em Joanesburgo,  Holanda e Dinamarca, que se dão melhor em Eurocopa, mas ainda não conquistaram o Mundial, poderiam fazer um jogo, como se diz, parelho.

Com um ligeiro favoritismo da um dia chamada Laranja Mecânica (hoje, completou 20 jogos sem perder e, nas Eliminatórias, acumulou 8 vitórias em 8 partidas) frente à outrora Dinamáquina.

Quarta e 35a. colocadas no ranking da Fifa, as duas seleções fizeram um primeiro tempo como se apresentassem um show de talentos individuais, porém contidos, porque gol, que é bom, não saiu.

Van der Vaart e Van Persie, pela Holanda, Brendtner e Kahlenberg, pela Dinamarca, estão entre esses atletas que fazem dar gosto ver as jogadas de que um futebolista talentoso é capaz.

No duelo de Vans e Sens, os primeiros dominaram a partida a ponto de os outros deixarem apenas um atacante fixo na frente, fechando-se para garantir a defesa e partir para contra-ataques. Mas foi a Dinamarca que chutou mais a gol, e o goleiro holandês Stekelenburg não fez feio. Quem pisou, não na bola, mas nos tornozelos adversários foi Van Bommel. Numa das pegadas mais fortes, fez por merecer o cartão amarelo.

Ainda bem que Van Persie, autor de belas jogadas, chegou a colocar a bola entre as pernas de seu marcador e em outra deixou-o no chão; Van der Vaart não se fez de rogado e, numa rebatida da zaga depois de cobrança de escanteio, tratou a jabulani com carinho: ajeitou-a no peito e bateu de primeira com a perna esquerda. É o que se pode chamar de valorizar a beleza plástica de uma jogada benfeita. 

A Holanda fez o seu primeiro gol no início do segundo tempo, mas contou a ajuda image da zaga dinamarquesa, que bateu cabeça na bola, bola nas cosas, indo morrer nas redes de Sorensen.

No banco de reservas holandês, Frank de Boer é um reforço de peso na comissão técnica; e foi de lá que entraram duas revelações - Elia e Affelay - em substituição a dois destaques do primeiro tempo: Van der Vaart e Van Persie.

No quesito substituições, a Holanda se deu melhor e garantiu a vitória, numa das boas jogadas do veloz Elia. Venceu seu marcador, tocou na saída do goleiro, e a bola resolveu bater na trave e voltar para a conclusão de Kuyt.

Aí já eram 39 minutos, e a nova laranja por pouco não chegou ao terceiro gol, aos 42, com o zagueiro Simon Jacobsen se redimindo da bobeira geral no início da segunda etapa, dessa vez tirando de puxeta a bola de cima da linha.

A Holanda foi melhor porque soube trabalhar a bola, indo ao ataque, em vez de esperar na defesa uma oportunidade de contra-ataques, como fez seu adversário o tempo todo. A Dinamarca amargou a sua primeira derrota numa estréia em Copa do Mundo.

Os holandeses, como deseja Bronkhorst, ao falar numa entrevista, precisam superar a fama de jogar bem sem ganhar o Mundial. O primeiro passo foi dado.

Sushi morno e camarão frio

image Japão (45o. no ranking da Fifa) e Camarões (16o.) protagonizaram, no Free State Stadium, em Bloemfontein, o primeiro encontro de asiáticos e africanos na Copa. Na partida que fechou a primeira rodada do Grupo E, o equilíbrio de forças poderia ser a tônica: 6 participações na competição dos leões para 4 dos samurais. Mas não precisavam exagerar nos maus-tratos à bola.

Num jogo de pouca técnica e muita força física, nem Eto´o parecia querer dar jeito de fazer a bola rolar com um mínimo de algo parecido com bom futebol. Era marcação, no caso de Camarões já na saída de bola japonesa, parando com falta as jogadas, com trombada pra todo lado, para desgosto da jabulani.   

Muito menos o árbitro português Olegario Benquerença tinha como ajudar a elevar o nível da partida, por mais boa vontade que seu sobrenome sugira. Aos 20 minutos do primeiro tempo, o goleiro Hamidou resolveu colocar um pouco de emoção no jogo, ao tentar segurar a bola por duas vezes em sua área; acabou atropelando e enroscando-se num japonês, que insistia em recuperá-la. Um lance bisonho.

Aos 30, Kawashima não quis ficar atrás do colega camaronês. Subiu bonito, não segurou a bola e deve ter cometido o primeiro caso de autocontusão da Copa, ao cair feio, de costas no chão.

Clipboard03 Eis que aos 39, Honda (velocidade não lhe falta, com esse nome) marcou aproveitando um dos inúmeros cruzamentos da direita para o segundo pau da meta africana. Ainda consegui dominar a redonda, antes da conclusão.

No segundo tempo, enquanto se sucediam pernadas e obstruções de todo tipo, os técnicos mudaram os lutadores que o regulamento permite: 3 pra cada lado, e nada de o jogo melhorar. Por incrível que pareça, num jogo tão truncado, faltoso, sem criatividade, apenas de disciplina tática (?!), o primeiro cartão amarelo saiu apenas na 41a falta. falta. E teve mais, tanto faltas como outro amarelo - só pra ficar um pra cada time.

Só aos 37 minutos, num lampejo de ataque, o Japão obrigou o goleiro camaronês a fazer boa defesa, no seu canto esquerdo. A bola, despachada de fora da área tinha endereço certo.

Aos 40, foi a vez de Mbia (haja disposição!) tentar o golzinho de empate, mas a bola acertou apenas a trave adversária. Dois minutos depois, Hamidou por pouco não engole um frango,que seria uma opção para o prato do dia: sushi morno com camarão frio.

Num espetáculo de horrores, não sei o que tanto cantava e dançava a torcida de Camarões; a do Japão, ainda vá lá, tinha o resultado a seu favor e celebrava com menos barulho e mais fantasia.

MACARRONADA REQUENTADA

O Green Point, na Cidade do Cabo, assistiu a uma partida muito disputada, com chuva, na abertura do Grupo F entre Itália e Paraguai. Nossos vizinhos, bem escalados pelo argentino Martino, não respeitaram em excesso a Azzurra de Lippi, tetracampeã e 5ª. no ranking da Fifa. Nem por isso Riveros precisava ter deixado a chuteira na perna de um italiano, com menos de 1 minuto de jogo, com a complacência do mexicano Benito Archundia.

A Itália insistiu em cruzamentos, ora da direita com Iaquinta ou Criscito, ora da direita com o incansável Zambrotta, firme na defesa, como de resto toda a zaga, e rápido no apoio ao ataque. Faltou precisão, porém, e a bola não chegou na medida para a conclusão das jogadas.

O Paraguai soube sair jogando, foi firme na marcação e, em cobrança de falta por Torres, aos 38, Alcaráz subiu mais que a implacável zaga italiana e cabeceou certeiro, no canto esquerdo de Buffon, que mal teve tempo de olhar a bola entrando, rasteira, mansa e matreira.

A melhor chance de ataque da Azzurra foi com Montolivo, que se aproveitou de um vacilo da defesa paraguaia, avançou com a bola dominada, mas bateu fraco nas mãos de Villar. Isso depois de uma sequência de dois escanteios cobrados pelo Paraguai num mesmo minuto. Sinal de que o jogo era lá e cá, com apenas um senão: o veterano árbitro deixou rolar as jogadas mais ríspidas, e teve até bate-boca de De Rossi com Riveros.

A Itália veio com Marchetti, no lugar de Buffon, para o segundo tempo, em que foi mais agressiva, a começar pelas canelas paraguaias, e o primeiro a sentir a diferença foi Valdez, atacante que se movimenta muito e complica a vida de qualquer defesa. Mas a Azzurra não deixava de criar chances no ataque com Montolivo e Pepe em troca de passes rápidos, porém tímidos nas conclusões.

Lippi colocou Camoranesi, que logo no seu primeiro lance alçou a bola com perigo na boca do gol paraguaio. Villar que se cuidasse porque iria ter mais trabalho na partida. O Paraguai, por seu lado, não desistia de ampliar a vantagem no placar, tanto que nas substituições privilegiou o ataque, trazendo Santana e Santa Cruz para o jogo.

Lippi respondeu com a entrada de Di Natale (29 gols no campeonato italiano). O jogo ficou ainda mais franco, com as pegadas de sempre, até, finalmente, Victor Cáceres inaugurar a distribuição de cartões amarelos por carrinho frontal em Montolivo.

Aos 17 minutos, Pepe cobra escanteio da esquerda, a bola passa por toda a zaga e o goleiro sai mal, deixando De Rossi livre para chutar forte e estufar s redes guaranis.image

Daí até o final, a Itália foi mais ao ataque, enquanto o Paraguai se defendia com o reforço de seus atacantes, que vinham ajudar a defesa e já tentavam partir em contra-ataque. Numa dessas tentativas, Camoranesi derrubou Santana próximo à área paraguaia e, pelo estilo da falta, poderia ter recebido o segundo cartão amarelo.

A chuva não atrapalhou nem o desempenho dos atletas nem a animação das torcidas, e a Azzurra conseguiu pelo menos esquentar a macarronada antes que azedasse de vez.

  • Numa das substituições no jogo de abertura do Grupo E, o técnico dinamarquês Morten Olsen colocou Beckmann para jogar. Não se sabe se acreditava no efeito psicológico da semelhança do nome dele com o do britânico Beckhann, que nesta competição é um auxiliar de luxo do técnico Capelo.
  • Meu amigo de Roterdã, que me ensinou a pronúncia correta do nome do  time do qual é torcedor, Feynoord, me liga para falar da qualidade desta seleção laranja, que está com uma campanha acima da do Carrossel de 74. Eu, de olho na telinha, disse a ele que com uma torcida dessas não tem como não jogar bem.Clipboard05
  • Ah, sim, locutor brasileiro tem a mania de pronunciar nomes e/ou palavras estrangeiras como se todas fossem em inglês. O tal do Feynoord se pronuncia simplesmente feienurd, não fainóóórd, como querem alguns. Hoje mesmo o holandês Elia, que entrou muito bem na partida, teve seu nome pronunciado como Elaia... Gasta-se tanto com tanta coisa, por que não perguntar ao menos a pronúncia dos nomes a quem saiba a maneira correta?

Agradeço a referência, ainda que involuntária, ao nome desta coluna no título “Copa, cozinha e dependências de empregada”, na coluna agamenonnacopa, que sai no Diario de S. Paulo.

Na estrada_____________________________________________________

Aqui vão outras frases que internautas sugerem colocar nos ônibus das delegações no lugar das oficiais:

  • Itália - "O nosso azul no céu da África". Ma che, migliore cosi:

A COPA DO MUNDO É MASSA!!!

 

  • Paraguai - "O leão guarani ruge na África do Sul" não resiste a um:

COPA DO MUNDO POR APENAS R$ 1,99

 

  • Portugal - Se, no ônibus, está: "Um sonho, uma ambição... Portugal campeão!", na realidade, ô, pá:

SEREMOS CAMPEÕES EM PLENA ÁSIA!

 

  • Suíça - Em troca do "Vamos, Suíça!", por que não:

VAMOS DAR UM CHOCOLATE NELES.

 

  • Uruguai - onde se lê "O sol brilha sobre nós. Vamos, Uruguai!",

entenda-se: 

GAÚCHO É A MÃE, TCHÊ.

 

Por hoje, é isso.
Mensagens para esta coluna devem ser enviadas para ninoprata@yahoo.com.br
fotos: agência brasil

Lembro que o texto desta coluna sai também no site www.cliqueabc.com.br

fotos: ebc, getty images

charge; sponholz

Nenhum comentário: