Sábios leitores, guerra santa no futebol? Só faltava esta. Kaká, o queridinho de muita gente por seus dotes futebolísticos e por outros atributos, deu agora para ir na esteira do general Dunga e atritar a imprensa. O pior é que, a meu ver, o fez da maneira mais incorreta. Um jornalista participa da coletiva do jogador e, na espera da resposta à pergunta feita, surpreende-se que o 10 da seleção de Dunga comece a tripudiar sobre algo que o pai desse jornalista teria escrito a respeito do Kaká. Dando nomes aos bois: André Kfouri, jornalista da ESPN e do Lance, filho de Juca Kfouri, este para mim um ícone da mídia esportiva escrita e respeitado por suas posições corajosas frente assuntos que se refiram a ou tenham a ver com futebol. Conheci o Juca cidadão e convivi mais com essa pessoa do que com o Juca jornalista especializado em esportes, notadamente futebol. Agora, vem o Kaká dar a entender que o Juca o persegue, que, por ser ele, Juca, ateu (palavras de Kaká) tem preconceito com Kaká, por ser o jogador evangélico. Me poupem! Guerra santa no futebol, na na ni na non (é assim que se escreve?), e vinda do Juca Kfouri? Duvido. Faria muito melhor o Kaká se convidasse o Juca para um bate-papo, tomando um cafezinho ou, sei lá, num almoço ou num jantar, para tirarem as diferenças. Agora, usar de uma coletiva, em que o citado desafeto não se encontra e mandar recado pelo filho dele, que está ali a trabalho, só pode ser algum item da cartilha dunguista. Até Felipão, pasmem, acha que Dunga exagera em seus ataques à imprensa. Se me permitem, leitores, e o Kaká e o Juca também, estudei Filosofia e Teologia, sou cristão, mas sem fanatismos. Antes de se decidir por alguma religião, o indivíduo tem de procurar ser pessoa íntegra, ética antes de mais nada. Conheço muito colega na profissão, na qual sobrevivo desde 1972 (façam as contas), que não é religioso, mas tem caráter, é íntegro, não se contenta em conhecer a história recente deste país, mas procura fazer parte dela. Juca é uma dessas pessoas, que o digam a sua militância sindical, a sua participação em episódios decisivos pela redemocratização do País. Kaká, menos alarido, por favor, e mais futebol, se você estiver em reais condições de jogá-lo, como sempre fez - pena que não no Corinthians.
A conquista é vermelha Vestida de vermelho, a Inglaterra veio para o jogo decisivo no Grupo C e um dos mais importantes em sua história de inventora do futebol (os brasileiros aperfeiçoaram o esporte, mas alguns se esqueceram de como se faz). Tinha de vencer a Eslovênia no Nelson Mandela Bay, em Porto Elizabeth, e ainda torcer por resultado que lhe fosse favorável no confronto de estado-unidenses e argelinos, na outra partida da chave. Líderes até ali, os eslovenos não poderiam acomodar-se nos 4 pontos conquistados porque até mesmo a última colocada, a Argélia, com 1 ponto apenas, poderia surpreender em caso de vitória sobre os Estados Unidos. Jogo duro, arbitragem séria do alemão Wolfgang Stark. Quem sabe o vermelho das Cruzadas deixasse os britânicos mais aguerridos. No início, Johnson pegou Kirm na lateral do campo, para impedir a saída rápida de bola do adversário. O lateral-direito inglês parecia não estar num de seus melhores dias porque já se atrapalhara todo, próximo de sua área, ao tentar domínio da jabulani, que lhe escapou por baixo das pernas. Dois minutos depois, Rooney impediu nova arrancada eslovena, derrubando o adversário por trás, e foi advertido pelo árbitro. Aguerrida, a Inglaterra estava; modificada também. Capello colocou Upson, Milner e Defoe, este ao lado de Rooney no ataque. A Eslovênia, muito bem armada, saía rápido ao ataque. Aos 13, começou o coro que incentiva os guerreiros: "God save the queen", "England, England", cantou a torcida a plenos pulmões. Foi uma sequência de 3 jogadas contra a área eslovena para uma de Birsa contra o gol de James, em cobrança de falta. A encarnação do espírito de luta era Rooney, que acreditava em todas. Aos 21, dominou a bola, quase perdida à esquerda, no encontro da linha lateral com a de fundo, e armou a jogada de ataque. Aos 23, Defoe, mesmo com marcação de zagueiro, abriu o placar, à moda dos centroavantes, depois de receber cruzamento da direita, feito por Milner depois de boa troca de passes. O próprio Defoe, 3 minutos depois, pegou mal o rebote, em jogada que foi replay da que resultou no gol, até ali salvador. Aos 29, a jogada de ataque mais benfeita da partida: Defoe, de novo, acerta o pé, o goleiro rebate, Gerrard ajeita de cabeça para Rooney, que lhe devolve a bola para o arremate, colocado na direção do canto esquerdo de Handanovic; quase surge outro frango na Copa. O bom lateral-direito esloveno, Brecko, ainda tirou uma bola de peito, quase no chão, vinda em chute cruzado, próxima do canto direito da sua meta, e a Eslovênia teve outras duas cobranças de falta a seu favor. Aos 43, Defoe sofreu falta, não marcada, ficou meio grogue e saiu dando sinais de que não voltaria. Wolfgang acabou o primeiro tempo aos 45, em ponto. Na volta das equipes ao gramado, assisti aos 34 segundos mais disputados na Copa, com o gol mais perdido também: Handanovic tenta impedir que saia mais um escanteio, não consegue; Rooney cobra rápido, a defesa rebate mal, a bola sobra para Defoe, livre, de costas pro gol, dar um toquinho... pra fora. Os cruzados vermelhos jogavam melhor. Aos 4 minutos, Defoe marcou o segundo, mas havia impedimento de Rooney. Em rapidíssimo contra-ataque da Eslovênia, em chute de longe, James teve de se virar porque havia um atacante na espera da sobra de bola, que não aconteceu. Lampard, Gerrard e Rooney, aos 7, em tabela sensacional, pararam na marcação cerrada eslovena; aos 9, Koren cobrou falta, venenosa, ao tentar que a bola quicasse perto do goleiro, que conseguiu abafá-la; aos 11, Terry cabeceou certinho, no canto direito, para defesaça de Handanovic, à la Banks na Copa de 70 - que ironia! Rooney parece que reencontrou o futebol que ele sabe jogar e esteve perto de fazer o gol dele também, como aos 12, quando desviou do goleiro e mandou a jabulani de leve na trave; um minuto depois, linda jogada do 10 inglês, na área inimiga, com direito a elástico no seu marcador. A Eslovênia, com a entrada de Dedic, arquitetou a chamada blitz pra cima da área inglesa, aos 22, com jogada muito bem tramada, com corte seco no zagueiro, chute pro gol, rebatido por James; o arremate veio forte, de fora da área, e Terry mergulhou de cabeça rente ao chão; se a bola viesse ali, bateria nele, mas foi pra fora. Os 15 minutos finais foram dramáticos pros dois lados: o número de faltas aumentou, par a par, os cartões amarelos se sucediam e, num escanteio, aos 39, todo o English Team estava em sua área para evitar o pior. Tomar um gol seria desastroso. O árbitro alemão acrescentou 3 minutos, para aumentar ainda mais a adrenalina. Sempre que tomava a bola em sua defesa, a Inglaterra ia cautelosa até o meio de campo, fazia as jogadas rente à linha lateral e, assim, segurou o placar que lhe era favorável. Se o drama inglês não chegou a uma tragédia shakespeariana, os eslovenos tiveram um castigo que não mereceram, não por este jogo. Até o apito final, em Porto Elizabeth, eles eram o segundo colocado, com os britânicos em primeiro. Mas aí, no outro jogo, os Estados Unidos fizeram o gol nos acréscimos, tomando a vaga da Eslovênia. A Inglaterra custou a fazer valer o que disse o técnico Fabio Capello ainda antes do início da competição. "Minha meta é a final" é o título da entrevista que ele concedeu ao Guia da Copa 2010 Placar. Na opinião de Capello, "nosso time é muito bom. Se todos os jogadores estiverem bem fisicamente na Copa do Mundo, podemos bater qualquer time". Terminada a primeira fase dos grupos, o ítalo-britânico chegou a estar na corda bamba ante rumores de desentendimento entre ele e Terry (desmentidos) e, sobretudo, por não ter ainda conseguido estabelecer um sistema de jogo que faça o English Team ir muito além dos 2 empates nas duas primeiras rodadas, o segundo deles com a inexpressiva Argélia. Os súditos da rainha sentiram-se, neste jogo, mais em casa do que nunca, por ir a campo no estádio que fica na cidade que leva o nome da soberana. Talvez por isso, também, jogaram futebol, vestidos de vermelho. Deus salve a rainha, os jogadores, a comissão técnica e, mais do que ninguém, o Capello! A Inglaterra conseguiu a classificação às oitavas com:
Águia-calva ferra eslovenos Estados Unidos e Argélia, na outra partida do Grupo C, não fizeram jogo menos dramático do que o de eslovenos e britânicos. No Loftus Versfeld Stadium, em Pretória, era o caso típico de tudo ou nada; vida ou morte em termos de classificação. A Argélia foi logo ao ataque e criou duas chances de gol, numa delas a bola explodindo no travessão. Os Estados Unidos responderam com Dempsey, que até marcou, mas o belga Frank De Bleeckere sinalizou impedimento, no mínimo duvidoso, se não mal marcado. Mais um ato terrorista - mas de um belga? Bradley, o filho do técnico, também levou perigo à meta de M´Bolhi, mas o arremate saiu em cima do goleiro, que rebateu e torceu pro chute final ir por cima; Alá é misericordioso! Ao menos dessa vez. Pelas oportunidades criadas, a partida foi equilibrada no primeiro tempo e permaneceu assim por quase toda a etapa final. Aliás, em todo o segundo, sim. Nos acréscimos é o que o bicho pegou, ou seja, a águia bicou. Dempsey conseguiu no tempo normal, em boa trama, mandar a bola na trave direita, pegou o rebote e chutou por cima do gol. O brasileiro Feilhaber por pouco não fez o dele, mas o que conseguiu foi consagrar o goleiro argelino, que defendeu o cabeceio perigoso e ainda abafou a bola na sequência. Nos acréscimos, quando muita gente se acomodaria, Donovan, em contra-ataque, pegou o rebote e fez 1 a 0. Teve tempo para o argelino Yaha ser expulso, e parecia não entender o motivo. Foi o dia de a águia-de-cabeça-branca mostrar a sua força, suficiente para caçar a raposa do deserto. Também chamada de águia-calva (nenhuma referência ao técnico Bob Bradley), símbolo dos Estados Unidos, conhecido em todo o mundo, a sua bicada foi letal nem tanto em cima dos argelinos, mas sobre os eslovenos. Com a vitória por 1 a 0, nesta partida, a Eslovênia, até ali líder do Grupo, foi desclassificada. A seleção de Bob Bradley ainda por cima assumiu o primeiro lugar, classificando-se a equipe de Capello em segundo. Confira como ficou a posição de cada time na chave:
Juventude resolve A Alemanha, depois de estrear bem no Grupo D com goleada de 4 a 0 na Austrália (esses cangurus não vão bem das pernas), se via agora na obrigação de vencer Gana para não depender de nenhum resultado na classificação para as oitavas de final. O equilíbrio do Grupo é ímpar porque até mesmo a Austrália, com apenas 1 ponto em dois jogos, iria enfrentar a Sérvia com chances de subir na tabela, dependendo do que acontecesse com os demais times. Ao contrário da confiança-quase-certeza de Capello, da Inglaterra, o técnico alemão Joachim Löw era reticente: "Argentina, Brasil e Espanha ... Temos um time jovem. Podemos ir longe, mas não estamos entre os favoritos, como esses três". Se a Alemanha empatasse, Gana somaria 5 pontos; mas aí se Sérvia vencesse a Austrália - o que não seria de espantar -, iria para a liderança com 6 pontos. Bola rolando, no Soccer City, em Joanesburgo, com arbitragem do brasileiro Simon, o que se viu foi um jogo equilibrado, com a Alemanha variando mais as jogadas de ataque, com 3 à frente, Cacau um deles, e Gana fazendo prevalecer o seu domínio de bola e a técnica de jogadores como Gyan e Ayew. O meio de campo ganense fazia marcação especial em Schweinsteiger, para evitar que o alemão, experiente, armasse as jogadas de ataque. Os jovens Özil e Müller ficavam mais soltos, um do meio pra direita; outro do meio pra esquerda. E Cacau se movimentava tanto, a ponto de ajudar na defesa. Podolski, nos primeiros 10 minutos, levou perigo ao goleiro Kingson, e numa delas Jonathan Mensah, ao tentar tirar a bola, quase marcou contra, se não fosse o goleiro desviar para escanteio. Cacau fechava no meio da área. Gana chegou a ameaçar aos 13, em boa jogada de Asamoah, pela esquerda, confundindo a defesa alemã, que bateu cabeça e pernas. A bola sobrou para Gyan, que cruzou. A zaga cortou. Cacau, em boa jogada, deixou Özil à vontade para levar a bola, passar pelo seu marcador e, cara a cara com Kingson, chutar em cima do goleiro. Como pode perder um gol desses? Para não ficar atrás, Gyan fez uma das suas, esnobando a marcação com drible desconcertante. Conseguiu escanteio e, na cobrança, Lahm tirou de peito a bola que entraria rente ao segundo pau. Cacau e Schweinsteiger ainda obrigaram o goleiro ganense a trabalhar: o brasileiro, ao concluir, mesmo diante de dois adversários, para Kingson cair e segurar firme; o 10 alemão, em cobrança de falta, já aos 40, chutou forte em direção ao canto esquerdo, para outra importante defesa do goleiro. As chances de gol (5 a 3), as faltas (apenas 3 de cada lado), os escanteios e mesmo os cartões amarelos dão a exata noção do equilíbrio no primeiro tempo, que terminou 0 a 0. Na combinação desse resultado com o da outra partida, Gana e Alemanha se classificavam. No segundo tempo, Gana voltou com mais variação no ataque, tanto que Gyan passou a atuar pela esquerda. Mas a blitzkrieger poderia acontecer a qualquer minuto. Numa das subidas da Alemanha ao ataque, Pantsil espanou o taco, a bola ficou perigosamente na área porque o goleiro saiu errado, e o que valeu foi o espaço estar congestionado, dificultando a finalização a gol. Gana se fechava em sua área com até 8, como é comum se ver nesta Copa. Mas quando atacava, punha chucrutes pra dançar, como em jogada de Gyan. Lahm deu o troco, ao recuperar a bola e sair pro jogo com categoria. O equilíbrio do primeiro tempo persistia, até que Özil, aos 14, recebeu passe na medida de Müller, da direita, e acertou o pé, em finalização precisa, à meia altura, no canto direito de Kingson. Com o gol a Alemanha passou a liderar o Grupo. Em resposta, Gana conseguiu dois escanteios no mesmo minuto, aos 16, e começou a fazer substituições para dar consistência na marcação, com a entrada de Muntari. A Alemanha colocou Trochowski, que, zero bala, fazia boas triangulações com Özil e Cacau. Numa das arrancadas do brasileiro, já na área ganense, teve até drible da vaca, com a bola rolada para Podolski encher o pé, de fora da área, e a bola explodir no queixo de Sarpei; quase nocaute. O jogo ficou complicado para Gana com o que se passava no duelo de australianos e sérvios. No banco de reservas ganense, a confabulação era visível, com jogadores fazendo contas nos dedos, certamente sabedores de que a Austrália surpreendia, ao marcar duas vezes. Nada que tirasse a concentração de quem estava em campo. O resultado deixou a Alemanha em primeiro e Gana em segundo. Os responsáveis pela classificação são os seguintes times:
Cangurus surpreendem Austrália e Sérvia, no Mbombela Stadium, em Nelspruit, com arbitragem sofrível do uruguaio Jorge Larrionda, fizeram um jogo também equilibrado, com a diferença de os sérvios criarem suas chances de gol já no primeiro tempo, com Zigic, e os australianos só acordarem no segundo. O jogo terminou em 2 a 1 para a Austrália, resultado que desclassificou as duas seleções e tirou a esperança de os europeus conseguirem somar um pontinho com gols que os levassem ao segundo lugar. Imagina o sofrimento dos ganenses. Os australianos, como fizeram 2 a 0, poderiam – se marcassem mais 2 gols – ficar com a vaga para si. A chave estava bem-embolada. Cahill fez o primeiro gol dos cangurus, ao cabecear firme no canto direito de Stojkovic. O segundo foi um golaço, da intermediária, com a bola indo parar também no canto direito do goleiro sérvio. Brett Holman recebeu, livre, de Culilna e não perdoou. Pantelic descontou para a Sérvia, aos 38, em chute certeiro de direita. Os sérvios reclamaram muito da arbitragem por impedimentos, no mínimo, duvidosos, assinalados por Larrionda e pela não marcação de pênalti. O que poderia ter feito a diferença. Os milhões que valem
Baú de surpresas
Frases
Na estrada com Valquíria
Por hoje, é isso. Lembro que o texto desta coluna sai também no sitewww.cliqueabc.com.br fotos: getty images charge; aroeira |
24 de junho de 2010
A SELEÇÃO CHEGOU A PONTO CRÍTICO
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