7 de julho de 2010

QUE TAL VALORIZAR OS CLUBES?

tacho_Nino Prata

Hexatônitos* leitores, sem ufanismo, nacionalismo ou xenofobismo – mesmo porque nem é a hora para isso -, insisto: quando teremos no Brasil um técnico da Seleção de Futebol capaz de convocar jogadores atuantes em equipes no País? Que a legião estrangeira fique integralmente dedicada a seus clubes, espalhados pelo mundo inteiro.

A Alemanha, por exemplo, às vésperas de poder chegar a seu 4º. título mundial e, ainda por cima, ficar com o maior goleador de todas as Copas, Klose, é 100% alemã nos 23 jogadores e no técnico Joachim Löw, à frente da seleção desde 2006.

O índice de estreantes no elenco também é expressivo, a começar do técnico. O elemento-surpresa fica, por isso, reforçado. Por mais que o futebol seja globalizado, e os times se exponham aos adversários em potencial.

A Espanha, que enfrenta a Alemanha no jogo semifinal desta quarta (7), é uma das seleções que mais jogadores tem no elenco atuantes em equipes no seu próprio país. Ou seja, uma das finalistas da Copa será seleção fortemente nacional; não estrangeira.

O índice de estreantes na equipe espanhola é menor do que o do time germânico, porém a média de idade de seus jogadores é uma das mais baixas na Copa. A maioria deles nasceu entre a segunda metade dos anos 1980 e o início dos anos 1990. Apenas dois – Puyol e Capdevilla - são de 1978.

 

Cérebro bate a raça

AUTO__dalcio Na primeira semifinal, disputada no Green Point, na Cidade do Cabo, o jogo cerebral dos holandeses foi capaz de conter a decantada raça uruguaia. A lamentar que a arbitragem erre em lances decisivos numa partida como esta. Foi 3 a 1, com gols de Bronckhorst, Forlán, Sneijder e Robben.

A Holanda, depois de 32 anos, está na terceira final de Copa do Mundo; nesta quarta-feira fica sabendo se terá pela frente a seleção alemã, como em 1974, ou se haverá uma decisão de Copa inédita entre Holanda e Espanha.

Clipboard02 O jogo começou muito estudado, o que não seria de estranhar numa partida tão decisiva como a que define quem passa à final da Copa. Item em que os holandeses já saem levando vantagem por saberem, como poucos, tocar a bola e cuidar da marcação em sua defesa, à espera da oportunidade do contra-ataque. Aos 3 minutos, na primeira estocada de Robben pela direita, Muslera rebateu a bola, que sobrou para Kuyt chutar por cima do gol. Aos 9, perigo de gol na área uruguaia em dois cruzamentos seguidos de Kuyt por causa da espirrada de taco de Cáceres. Por aí se via que a ausência de Lugano seria muito sentida na zaga. Aos 16, Van Persie roubou a bola na linha lateral, pela esquerda, entrou na área e Arevalo afastou o perigo.

O Uruguai ainda não havia conseguido chegar uma só vez com real chance de gol ao campo holandês. Aos 18, Bronckhorst mandou o canudo, de esquerda, no Clipboard03 ângulo esquerdo de Muslera, depois de muita troca de passes e movimentação no ataque holandês, tanto que Robben jogava pela esquerda na hora do gol que abriu o placar: 1 a 0.

A Holanda passou a ganhar tempo, sem vergonha de recuar a bola até o seu goleiro, pra novas tentativas de armar jogadas. A bola não chegava a Forlán, que poderia decidir o jogo pros uruguaios. Numa das poucas vezes em que a celeste poderia ter ameaçado a meta de Setekelenburg, Boulahrouz deu o bote e roubou a bola de Forlán, na marca do pênalti, em inusitada cobertura de lateral sobre a zaga.

O Uruguai ainda chegou com Cavani, pela direita, que foi bem à linha de fundo, mas demorou para cruzar; quando o fez, mandou na zaga. A Holanda, toda recuada, esperava o momento de ir para o contra-ataque. Aí a bola chegou, finalmente, a Clipboard04 Forlán, como o meia uruguaio gosta. Ele recebeu de costas pro gol, aos 37, fez o giro, se livrou de leve da marcação e chutou de esquerda por cima de Stekelenburg, adiantado: 1 a 1. A raça uruguaia reacendeu por alguns minutos: Cavani sofreu falta, que Forlán cobrou no canto esquerdo para defesa tranquila do goleiro holandês.

Seria o suficiente para, em outras circunstâncias,incendiar a partida no segundo tempo. Logo aos 5, por pouco Maxi Pereira não marcou o segundo da celeste. Em recuo de bola malfeito, Stekelenburg dividiu errado, e na sobra o lateral uruguaio mandou por cima. A jabulani só não morreu nas redes holandesas porque Bronckhorst tirou-a do caminho do gol, com goleiro e zaga completamente vencidos.

Os uruguaios haviam conseguido se impor em campo, com aguçado sentido de marcação, melhor distribuição de seus jogadores nos espaços estratégicos, e os laranjas continuaram no mesmo jogo cerebral que os caracteriza, esperando o momento certo para dar o bote. A sua zaga chegou, porém, a comprometer em mais duas vezes, praticamente seguidas. Forlán e Cavani se movimentavam melhor no ataque e contavam com a chegada mais efetiva de Gargano.

Aos 22, Forlán obrigou Stekelenburg a fazer boa defesa, em chute rasteiro de falta cobrada com precisão no canto direito. Até onde iria o melhor momento do Uruguai? A resposta veio de Sneijder, que aos 25 bateu cruzado e colocado, a bola ainda desviou de leve na zaga, com Van Persie em impedimento pelo miolo da área uruguaia, e foi morrer no canto esquerdo de Muslera.

Com 2 a 1, o jogo ficou mais ao estilo que a Holanda adora. Seus jogadores voltaram com mais insistência aos toques de bola, a movimentação deles era rápida do meio pra frente, e aos 29 Robben fez um belo gol de cabeça, ao apenas escorar, preciso, no canto esquerdo do goleiro uruguaio o cruzamento de Kuyt na medida. Com 3 a 1 a fatura poderia estar liquidada, não fosse o Uruguai o adversário.

Loco Abreu entrou no lugar de Alvaro Pereira, numa demonstração clara de Óscar Tabárez que seus comandados não abririam mão do ataque, em que isso implicasse descuidar da retaguarda.

Numa das jogadas de ataque da Holanda, Godin, Victorino e Muslera trombaram para impedir que boa jogada de Robben resultasse no quarto gol. Pouco depois, o 11 holandês recebeu presente da zaga, entrou com a bola dominada e talvez por falta de perna ou por preciosismo, mandou a bola nas mãos do goleiro, ao tentar um toque de leve na redonda.

Jogo ganho, a Holanda poderia comemorar, certo? Errado! Ainda mais que Forlán, aClipboard05 esperança de gols havia deixado o campo para a entrada de Fernández. Pois foi ele quem sofreu falta de Van Bommel. Na cobrança, em passe curto para Maxi Pereira, o lateral avançou e mandou, preciso, de curva, entre a zaga e o canto direito de Stekelenburg: 3 a 2.

Final dramático, digno de um jogo decisivo como este. O árbitro deu 3 minutos de acréscimo, que se prolongaram em quase 5, e aí foi pura pressão da raça celeste sobre os cerebrais laranjas. Estes se defendiam de todas as maneiras, tentavam as ligações diretas pro ataque, onde nem sempre aparecia alguém para concluir. O que fica para a história das Copas é que a Holanda está em mais uma final, com méritos. Se fosse o Uruguai que tivesse conquistado a vaga, também estaria em boas mãos, pés e cabeça. Eu disse cabeça? Mas aí brilhou a de Robben e companhia.

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Eles sempre voltam

Nos meus tempos de Sebrae-SP, compartilhados com o editor deste quemtempoe, tive a oportunidade de estar por duas vezes na  companhia de holandeses (havia holandesas também, claro!). Um deles, consultor de Roterdã que criou o método de gestão chamado Sociocracia.

Em outro evento, participei de bate-papo com integrantes de missão comercial dos Países Baixos em prospecção de negócios no Brasil. Perguntei-lhes se não se tratava de nova invasão holandesa, dessa vez do bem. A resposta, bem-humorada, foi: “os holandeses sempre voltam”.

É como no futebol: em três edições – 1974, 1978 e, agora, 2010 – sua seleção está na final da Copa.

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O foca e o que pega pesado

Clipboard07 Leio, no Lance, que Robben, na origem da palavra, significa foca. O 11 holandês até que faz as suas firulas, mas o que importa mesmo é a eficácia com que vai ao ataque. Já o 10, Sneijder, parece ter deixado a modéstia de lado. Disparou contra os técnicos brasileiro e argentino, ao falar do ambiente entre os laranjas.

“Faz bem ter alguém que transmite calma, e não pressão, aos jogadores. Mesmo após o gol do Brasil, ele (Van Marwijk) seguiu tranquilo. Eu prefiro um treinador assim ao lado do campo a idiotas como Dunga ou Maradona”, disse à Helden, revista holandesa.

O meia negou, porém, que tivesse feito as ofensas aos treinadores sul-americanos, e que teria sido mal interpretado pela publicação.

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“Em evidência no mundo”

Estima-se que milhões de brasileiros, chilenos, paraguaios e argentinos tenham engordado a torcida uruguaia nesta reta final da Copa. O que fez o técnico Óscar Tabárez comentar: “Nem a gente esperava ter tanta torcida. Mas é sempre bom. Estamos em evidência no mundo”.

AUTO_frankLoco Abreu aproveitou para justificar o apelido ao raciocinar; “Se a Holanda venceu o Brasil num jogo em que todo o favoritismo era brasileiro, por que não podemos sonhar em vencer os holandeses?”.

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Mais da caixa-preta

O ambiente entre os soldados de Dunga não era o da paz apregoada. No jogo contra a armada de Queirós, ora pois, um titular canarinho foi pro banco e não teria sido por precaução ou por questão de ordem tática.

Teria sido castigo aplicado ao jogador por ele ter dado entrevista em seu dia de folga.

Folgado esse Dunga, hem?

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Nem no apito

Carlos Eugênio Simon, os assistentes Altemir Hausmann e Roberto Braatz foram dispensados pela Fifa da relação dos trios de arbitragem que estarão nas partidas das fases semifinal e final da Copa.

Ou seja, nem no apito ficamos bem na ... Fifa!!!

Frases pós-Copa

Os times mais consistentes e melhores tecnicamente e mais organizados chegaram: Alemanha, Espanha e Holanda” - (Parreira, técnico dos bafana bafana)

Crescemos bastante como grupo - (Mancuso, auxiliar de Maradona, ao duvidar que El Pibe descarte continuar na seleção)

*licença jornalística

 

Por hoje, é isso.
Mensagens para esta coluna devem ser enviadas para ninoprata@yahoo.com.br
fotos: agência brasil

Lembro que o texto desta coluna sai também no site www.cliqueabc.com.br

fotos:  aft, reuters

charges: tacho, dálcio, frank

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