Hexauridos* leitores, esta é a primeira coluna a série Copa & Cozinha em que não abrimos com o título falando dos soldados de Dunga. Pra quê? Deixemos que eles desmontem os acampamentos, recolham as armas e voltem para seus lares ou para onde acharem melhor. O colunista acha melhor, depois desta edição no. 29, dar um tempo de folga aos leitores e promete voltar na terça-feira (6). A Copa continua e, neste sábado (3), tivemos duas atrações.
Último tango em Ciudad del Cabo Argentina e Alemanha defenderam, no Green Point Stadium, na Cidade do Cabo, o direito de uma das seleções passar às semifinais e a dignidade de duas forças que, juntas, representam 5 títulos mundiais conquistados. A Alemanha, que ganhou as Copas de 1954, 1974 e 1990, está perto de ultrapassar os 200 gols marcados na história da competição, tem dois artilheiros em Mundiais (Gerd Müller em 1970 e Klose em 2006) e foi semifinalista em 4 edições. Além de chegar ao 3º lugar três vezes e obter uma 4ª colocação. Um ranking notável em 16 participações, até 2006. Nesta Copa, apresentou ao mundo da bola gratas revelações, entre elas Müller (nome de peso) e Özil. A Argentina, campeã em 1978 e 1986, duas vezes vice, em 14 participações, vive um momento iluminado pela estrela do polêmico técnico Diego Armando Maradona e por ter no elenco jogadores de boa técnica, cada um na sua, como o detentor do título de melhor do mundo pela Fifa, Messi, secundado por Tevez, Verón, Di Maria, Higuaín, Milito, Mascherano, Burdisso. Se a estrela de Messi ainda não brilhou plenamente na África do Sul, todavia a equipe do meio de campo pra frente é de respeito. Está na hora de alguém riscar um fósforo próximo do camisa 10, pra ver se lhe surge aquela luz. E Maradona não é à toa que tem Armando no nome; sempre arma uma das suas... Dessa vez, não deu. O que conseguiu foi levar um shokolade al tango: 4 a 0 pros chucrutes sobre los hermanitos. Logo aos 3 minutos , a Argentina tomou gol em cobrança de falta da esquerda pro meio da área. Podolski colocou a jabulani a meia altura, Müller veio de trás e cabeceou de leve, para Romero engolir o seu frango na Copa. Pros padrões alemães, 1 a 0 é pouco, e foi o time de Joachim Löw que criou condições de amplair o placar a seu favor o tempo todo. A Argentina precisou de muita ajuda de seus homens de frente para virem ajudar a defesa; Messi, Tevez e Di Maria, além de Maxi Rodriguez, a todo momento vinham de sua defesa tentando organizar as jogadas de ataque. Em vão. Di Maria jogou muito, Messi pouco; só entra em campo com o nome; Tevez batalhou bastante também. Nada que impedisse blitzkrieger de funcionar a pleno vapor. Maradona escutava o auxiliar Mancuso, pegava toda hora a bola que saída pela lateral, como se quisesse ele começar as jogadas. Os deutschelandeses foram implacáveis. A Alemanha é assim: quando pode, goleia, não importa quem esteja pela frente; ainda mais que contam com jogadores habilidosos, e jovens, a exemplo de Müller e Özil. O próprio Schweinsteiger, que sempre achei um volante apenas de contenção e botinudo, aprendeu como se dribla, como se toca uma bola, mesmo sendo a jabulani, e como se serve um companheiro em condições de arrematar pro gol. Para não dizer que Messi não fez nada, aos 27, num raro lampejo de craque, à direita do seu ataque, se livrou de dois, com toquitos de canhota, invadiu a área e errou no cruzamento. Taí a diferença. A Argentina bem que tentou, vindo para o segundo tempo pra cima. E o que se viu em alguns minutos foram pegadas fortes, uma pra cada lado: Schweinsteiger em Dia Maria (os alemães sabem quem dá trabalho no jogo); Mascherano dando o troco no volante alemão. Aos 8, Maxi Rodriguez ajeita de peito para Tevez mandar de primeira; a bola explode no rosto de Mertesacker e vai pra escanteio. Aos 12, Romero evitou o segundo gol alemão, em jogada de Klose. A Alemanha se fechava com oito na defesa, saía rápida pro ataque, quando não Neuer tentava a ligação direta, principalmente em cobranças de tiros de meta. Aos 22, em troca de passes pela esquerda, Müller, mesmo caído, faz a bola chegar a Podolski, que vai quase até a linha de fundo e serve Klose, livre, para fazer 2 a 0; o 3º. dele na Copa e o 13º. em Mundiais. A solução maradônica foi colocar Pastore, para reforçar o ataque; e até que o jogador se saiu bem, ao avançar pela esquerda e cruzar a bola, que passeou pela área tedesca, sem ninguém pra concluir ou rebater. Não adiantou muito. Aos 28, Schweinsteiger humilhou toda a ala esquerda argentina, passando como quis pela marcação, e mandou a jabulani para trás; o zagueiro Friedrich fez 3 a 0. Fosse certo time ao sul do equador, se acomodaria até antes disso. Os alemães queriam mais, Klose era um leão, ajudando na defesa, indo pro ataque. Numa de suas descidas pela direita, deu drible desconcertante, ao cortar a bola e fazer o seu marcador passar lotado. Mascherano e Messi apelaram, de leve(?!), o volante ao dar carrinho por trás em Schweinsteiger, sem visar a bola – difícil parar esse panzer; e o meia (no caso, meio-atacante) ao deixar a trava da chuteira na coxa de um alemão. Os tedescos não entraram em provocação seja de que grau fosse. Aos 43, Klose faz 4 a 0; o 4º. dele na Copa e o 14º. na artilharia de todos os Mundiais. O recorde de Ronaldo está para ser igualado ou, até, batido pelo 11 alemão. Aos 46, no único minuto de desconto (o juizão teve dó dos hermanitos), Messi teve a última chance de pelo menos fazer um golzinho nesta Copa. Em vão. A equipe alemã que serviu o shokolade al tango jogou assim:
Dia de toureiro Espanha e Paraguai, no Ellis Park, em Joanesburgo, chegaram às quartas com campanhas parelhas, cada uma alcançando o primeiro lugar no seu Grupo, com pesos e medidas bem diferentes na trajetória em Mundiais. Primeiro, o que cada uma das seleções obteve na África do Sul: Paraguai, 5 pontos na fase inicial com 2 empates 1 vitória, 3 gols pró, contra (+ 2); Espanha.6 pontos com 2 vitórias, 1 derrota, 4 gols a avor e 2 contra (+2). As duas passaram por adversários de categoria distinta nas oitavas com placar apertado (Espanha 1 a 0 em Portugal; Paraguai, empate sem gol com o Japão e vitória nos pênaltis por 5 a 3). No confronto matriz e filial, por motivos históricos (invasão espanhola no fim do século 16), é bom saber um pouco do que cada seleção foi capaz de fazer até hoje em Copas. A Espanha chegou à África do Sul, cheia de pose, com elenco fabuloso e multimilionário. Já esteve em 12 Mundiais e o máximo que conseguiu foi o 4º. lugar em 1950. Tinha de ser aqui. Quando sediou a Copa, em 1982, amargou uma 12ª. posição. Desde 1978 não perdeu a vaga em nenhuma das edições da competição. E aterrissou no continente africano como a favorita das favoritas. O Paraguai, mais modesto, participou de 7 Copas, fora esta. Tirando a 8ª. posição em 1930, nas outras vezes oscilou entre o 11º. E o 18º. lugar. Nesta Copa estava, portanto, até este sábado, o maior dos lucros. O Ellis Park mais parecia uma plaza de toros, com o irritante toque de bola espanhol e a fúria paraguaia na busca de uma vitória. As mexidas do técnico argentino Gerardo Martino na seleção guarani parecem ter surpreendido os toureiros de Vicente Del Bosque. Foram pelo menos 15 minutos iniciais de jogo equilibrado, sem perigo de gol. Villa, el matador, por exemplo, só apareceu aos 26, em boa jogada pela esquerda; 1 minuto depois foi a vez de Torres fazer igual pela direita. Aos 28, Xavi recebeu na intermediária, de costas pro gol, girou e mandou a jabulani bem próxima do travessão paraguaio. O primeiro tempo burocrático, por parte dos espanhois, me deixa a impressão de que eles acham que podem decidir a partida, no caso, a tourada, no minuto em que acharem conveniente. Seus picadores, se não espetam lanças no pescoço do oponente, procuram – ao abusar do toque de bola em todas as direções – cansar os paraguaios. Nossos vizinhos do Mercosul impuseram forte resistência, à maneira dos guaranis quando da colonização espanhola. Val dez e Cardozo, quais meras feridos, iam do ataque à sua própria defesa com o mesmo ímpeto. Num dos ataques, os dois estavam juntos, quando a bola sobrou para Cardozo ajeitar a jabulani e mandá-la pras redes de Casillas. O juizão anulou erradamente o gol, aceitando sinalização de impedimento feita pelo bandeirinha. Mais fácil torcer pro toureiro, ora! Da paliçada espanhola Del Bosque instruía sua equipe, quem sabe preocupado em se poupar para eventual prorrogação ou, até, cobrança de pênaltis. Nos 45 minutos finais da porfia, logo aos 11, Piqué comprovou que não anda bem na competição; quase arrancou o braço de Cardozo, de tanto puxá-lo. Pênalti, que o próprio 11 paraguaio bateu, para Casillas defender à sua esquerda. Uma cobrança meia-boca. O touro estava debilitado, e os bandarilheiros preparavam o animal pra matança. A equipe guarani continuou aplicadíssima, solidária, sobretudo na marcação. A Espanha seguia, tecnicamente irritante. Num acesso de velocidade, chega na área paraguaia, Alcaraz derruba Villa, em carga sobre o 7 espanhol. Xabi Alonso ajeita a jabulani, mira o gol como o toureiro o miúra à sua frente, pronto pra a estocada fatal. A bola entra no canto direito, mas o guatemalteco Carlos Batres viu invasão de área e mandou voltar a cobrança. Alonso mudou o canto, e Villar voou certo, pra defender. Nem os espanhóis agüentavam mais passinho pra cá, passinho pra lá. Começaram a insistir nos cruzamentos de um lado para o outro do ataque, até que aos 37, saiu o gol salvador: Iniesta avançou pela direita, serviu Pedro (entrara cerca de 10 minutos antes), que chutou a bola na trave; no rebote, Villa mandou, colocado, no canto esquerdo, a jabulani que ainda tocou no lado interno da trave antes de morrer nas redes guaranis. Foi o 5º. gol do meia na competição, que tem novo artilheiro, isolado. O Paraguai, abatido, mas não morto, foi pro tudo ou nada. Já havia entrado Santa Cruz no time; aí veio Barrios pro ataque. Aos 43, Casillas salvou por duas vezes seguidas a Espanha de tomar o gol de empate, em chutes de Barrios e Santa Cruz, que pegou o rebote. Os 3 minutos de acréscimo serviram para prolongar a agonia do miúra paraguaio, que não se sabe como resistiu à estocada final e conseguiu, em lance de Santana, ao tentar a puxeta, acertar o rosto de Sergio Ramos. Foi dia de toureiro. A Espanha tem de melhorar porque o touro alemão é bem mais agressivo. A Espanha chegou à semifinal europeia com este time:
Proposta ousada
Desclassificados da Copa
Frases da Copa
*Licença jornalística Por hoje, é isso. Lembro que o texto desta coluna sai também no site www.cliqueabc.com.br fotos: getty images, aft, reuters charges: sinfrônio, mirrya |
3 de julho de 2010
A COPA CONTINUA, JÁ A COZINHA...
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