Nino Prata Guapos leitores, quem quer chegar ao hexa não perde o foco. Quando a imensa maioria das atenções se voltava para o jogo de abertura da Copa, marcado para sábado (11), Dunga exigia o máximo de seus comandados, na sexta (10): treino duro, corrida puxada até tarde, levando em conta que o jogo contra a Coréia, na terça (15), vai ser num horário de frio intenso. Este, apenas um dos motivos. No mais, acertar detalhes, corrigir posicionamento e movimentação em campo, com velocidade; chutes a gol, para acertar a pontaria e para Júlio César manter a forma e a fama. A carga de treinos, sobretudo de aperfeiçoamento de fundamentos do futebol, foi repetida à exaustão no sábado. O Brasil tem números expressivos na comparação de confrontos diretos com outras seleções favoritas ao título, e... todo cuidado é pouco. Exemplos: 12 vitórias contra 4 de Portugal; 11 vitórias brazucas para 3 dos ingleses; e 12 nossas contra 3 alemãs. Em jogos disputados com Espanha, Argentina, Itália, Holanda e França, há um equilíbrio maior. O mais lamentável deles, na rigorosa igualdade de vitórias (33) e empates (22) com os hermanos. Pensando bem, uma final Brasil e Argentina até que cairia bem, como tira-teima... Aproveito para corrigir a informação, que pode ter gerado dúvida, na coluna anterior, por dar a entender que a abertura da Copa foi na quinta (10). Na verdade, a África do Sul viveu nessa data a noite da festa de celebração do evento, no Orlando Stadium. Na sexta (11), aconteceu a cerimônia da abertura oficial da Copa no Soccer Stadium, em Joanesburgo, mesma cidade da festa da véspera. Pena que a figura onipresente de Mandela (nome de praça, de rua, de tantos outros locais públicos; inspirador maior da nova África do Sul) não encarnou na abertura oficial da Copa. O símbolo da resistência e da vitória sobre o apartheid não quis misturar a alegria de ver o país dar o pontapé inicial ao maior evento esportivo do mundo do futebol à dor de ter perdido a bisneta Zenani, morta em acidente de carro, de madrugada, quando voltava da festa da celebração da Copa. Show à parte A entrada dos jogadores para a partida foi um show à parte, mais pelo modo descontraído com que os sul-africanos vieram cantando, batendo palmas e dançando, desde o túnel de acesso ao gramado, ainda antes do aquecimento. Os mexicanos entraram de forma mais tradicional. Alguém do seleciona da casa deve ter pensado: melhor dançar antes que durante o jogo. Mas, bola rolando, os Bafana Bafana, do técnico Parreira, é que foram abafados pelos mexicanos, fortes na marcação tanto na zaga como no seu meio-campo, que impedia contra-ataques rápidos dos sul-africanos. Chances de gol, o México criou muito mais, no primeiro tempo, com boa movimentação de seus laterais e de Giovanni dos Santos, filho do brasileiro Zizinho, no ataque. Foram dele algumas das chances de gol do México, entre elas a primeira, ainda no começo da partida. A África do Sul parece que resolveu acreditar que podia marcar algum, nos últimos 10 minutos, numa sucessiva cobrança de escanteios. Não é sem motivo que Parreira começou a aquecer um dos reservas ainda antes do intervalo. Imagino o que deve ter rolado nos vestiários: os sul-africanos voltaram com alteração na lateral esquerda, que tanto serviu para acertar a marcação ao ataque mexicano quanto organizar contra-ataques. E foi o que aconteceu. A África do Sul foi melhor no segundo tempo, fez o gol aos 8 minutos, com Tshabalala, em jogada rápida que começou no meio-campo e foi concluída pela esquerda, num chute forte e enviezado, encobrindo o goleiro. Poderia até ter feito o segundo gol, se não fosse pênalti não marcado em Modise aos 24. Quando tudo parecia acomodado, com os mexicanos abusando do toque de bola, eis que as alterações do técnico Aguirre também surtiram efeito. Em passe preciso de Blanco, veterano de 3 Copas (com esta), em bola alçada na área, Mokoena não saiu e deixou Rafa Márquez (também em sua terceira Copa) livre, para bater no canto esquerdo de Khune. Em jogo de um tempo pra cada equipe, o empate até foi justo. Acredito que tenha pesado também no placar a experiência do México ante a quase totalidade de estreantes na África do Sul. Além de não se poder esquecer de que, considerada imprevisível por analistas, a seleção mexicana ganhou por 2 a 1 da tetracampeã Itália em amistoso, no dia 3, em partida disputada na Suíça. Não seria agora o barulho ensurdecedor de mais de 80 mil torcedores locais que iria tirá-la do sério. As equipes O time do México no amistoso citado foi: Ochoa; Rafael Márquez, Héctor Moreno, Carlos Salcido e Francisco Rodríguez; Israel Castro, Gerardo Torrado, Andrés Guardado e Giovanni dos Santos; Carlos Vela e Javier Hernández. No jogo de abertura da Copa, a seleção mexicana levou a campo: Óscar Pérez; Aguilar (Guardado), Osório, Rodriguez, Salcido; Juárez, Rafa Márquez, Torrado, Giovanni dos Santos; Vela (Blanco), Franco (Hernández). Vai entender treinador, não é mesmo! Ao que parece, o do México conta com variações de esquema dependendo da versatilidade de alguns de seus atletas. De seu lado, Parreira escalou: Khune; Gaxa, Khumalo, Mokoena, Thwala (Masilela); Letsholonyame, Dikgacoi, Tshabalala, Pienaar (Parker); Modise, Mphela. Os azuis-celestes Na segunda partida do primeiro dia da Copa, no Green Point Stadium, na Cidade do Cabo, a seleção bicampeã celeste do Uruguai (1930 e 1950) enfrentou a azul da França (campeã em 1998). As duas, de triste memória para nós, brasileiros. O que se viu no primeiro tempo foi o futebol bonito dos bleus, com toques de bola e dribles curtos sobre os adversários, que porém paravam na bem-armada defesa celeste. Franceses e uruguaios nesta competição estão fiéis a suas origens no futebol: a técnica de uns sobre a pegada e a raça de outros. De um lado, Ribéry, Anelka, Govou, Evra, Gorcouff criando jogadas de efeito, e do outro apenas Forlán, bom nos arranques, mas fraco nos passes e parco nos arremates. O segundo tempo começou com o Uruguai indo à frente, e a França parecia precocemente cansada, errando passes. Mas se acertou rápido e passou a dominar as jogadas de ataque. Chances claras de gol mesmo, poucas! Deve ser por isso que o técnico Óscar Tabárez colocou "el loco" Abreu, conhecido no Brasil principalmente pelos botafoguenses. Domenech, por sua vez, também mexeu no time colocando Henry no lugar de Anelka (eu teria deixado os dois no ataque) e Malouda no de Gorcouff. Ribéry passou a movimentar-se ainda mais, caindo também pela direita do seu ataque. Lodeiro foi outro que entrou no time uruguaio, mas foi um vexame só: recebeu cartão amarelo, logo de cara, e, mais pro fim do jogo, recebeu o segundo, em falta merecedora, só ela, de cartão vermelho. Fiel ao estilo pegador e raçudo, que se dá mal quando levado ao exagero. Aos 44, um lance curioso: Henry, em chute mascado, viu a bola bater na mão de um defensor uruguaio e queria pênalti; justo ele, que ajeitou a bola com a mão numa jogada que resultou no gol que tirou a Irlanda da Copa, nas eliminatórias. Cara-de-pau esse Henry! Para dois times que entraram em campo sabendo que, se um deles fosse vencedor, estaria líder do Grupo A, o 0 a 0 deve ter sido frustrante. Bom para sul-africanos e mexicanos, que lideram a chave por ter empatado com 1 gol cada. A Copa começa equilibrada, o que já era esperado neste Grupo, mas meio chata. Frases da Copa "O espírito de Mandela está presente no Soccer City" (Joseph Blatter, presidente da Fifa). "O dia da África chegou" (Jacob Zuma, presidente da República Sul-Africana). Ambos, na abertura do evento. "Não tenho a menor frustração com meus últimos trabalhos. Zero frustração." (Carlos Alberto Parreira, treinador da África do Sul) Logo depois da partida inaugural da Copa. Parreira avalia que a seleção mexicana está apta a dar trabalho para todas as outras do torneio. “Quero ver o espírito inglês que vi durante as Eliminatórias, uma equipe bastante competitiva em campo" (Fabio Capello, técnico do English Team, que pega os Estados Unidos neste sábado, 12, em jogo cuja arbitragem é de Carlos Eugênio Simon. “Pouco me importa o que Maradona diz. Estou focado apenas na preparação de minha equipe” (Lars Lagerbäck, técnico da Nigéria, sobre o treinador argentino ter afirmado que a seleção nigeriana "joga duro", e pedido respeito ao fairplay. Por hoje, é isso. 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