Nino Prata Compreensivos leitores, a generosidade de Dunga e seus comandados, ao se permitirem fazer um treino aberto no Soweto - bairro-símbolo da resistência ao regime racista que vigorou na África do Sul durante décadas e décadas -, me surpreende. Isto é o que se pode chamar de dar uma no cravo e outra na chuteira. Primeiro, o selecionado canarinho foi garantir uns milhões de dólares naquele ami$to$o em Harare, no Zimbábue, dominado pela ditadura de Mugabe; agora levou migalhas ao povo ainda sofrido de um dos bairros mais pobres de Joanesburgo, na África do Sul. Dunga até apareceu na telinha, empunhando o pavilhão nacional junto a duas crianças, e se deixou fotografar brincando de bola com outras. Deve ter dado bandeira a elas. Não pode é dar bandeira a adversários e, muito menos, porrada em quem lhe pergunta aquilo que sai do script. Seu assistente imediato, Jorginho, é mais virulento que o próprio Dunga nas coletivas. Diferentemente de Kaká, fino e claro nas respostas, sereno a ponto de fazer crer que estará, de fato, bem para a estreia. Já o mesmo não se pode dizer que outras seleções, a exemplo da de Costa do Marfim, que deve perder Drogba na competição, ferido numa voadora de um tal de Tanaka, em amistoso contra o Japão. Tanaka que, por sinal, é brasileiro naturalizado. O nome do agressor é Túlio, mas o sobrenome bem que poderia mudar pra Panaca... CURTAS - Converso com uma amiga francesa que mora em Brasília. Não se pode dizer que viva no país das maravilhas, apesar de se chamar Alice. Provoco-a ao lembrar que a França roubou a vaga da Irlanda nesta Copa, ao desclassificar uma das seleções do Reino Unido numa jogada com um golzinho que começou com um toque de mão de Henry. O empate classificaria a Irlanda.
- Azarada essa Irlanda, que ainda tem de aguentar a Inglaterra como uma das favoritas a levantar a taça. Que, se conseguir, será pela segunda vez. Enquanto isso, a minha amiga me questionou docemente: "Pardon, monsieur, la main de qui?". Quase lhe respondi: "De Dieu, é que não foi; esta já havia ajudado Maradona na Copa da Itália, bien sur?".
- Dizem - ainda bem - que futebol não tem lógica. Mas não custa lembrar que a zebra está à vontade na África do Sul, menos quando vira iguaria gastronômica, é claro. Dunga deve torcer para que ela não galope pelos gramados porque a considerada zebra mais surpreendente das copas é a de 66 (número da besta), na Inglaterra, quando a Coréia do Norte venceu a então bicampeã Itália por 1 a 0. Coréia do Norte que é a primeira adversária do Brasil agora. Xô, Park Shin-Chut!
- Quem está fora da Copa também brilha. Em excursão na América do Norte, o Milan venceu por 4 a 1 o Montreal Impact, com gols de Pato, Ronaldinho, Inzaghi e Seedorf, preteridos por seus técnicos brasileiro, italiano e holandês. Vai saber... Enquanto isso, no Brasileirão, Roberto Carlos mais Iarley, que juntos somam mais de 70, mostraram contra o Inter gaúcho que o Corinthians pode estar mal de centenário, mas se vira no septuagenário. Eu mesmo já havia encomendado a faixa Campeão do Centenada...
- Almir Sater, por algumas pessoas mais conhecido por ser ator de telenovelas, é baita violeiro, compositor e gente boa. Olha só o verso de "Pagode bom de briga", em parceria com Paulo Simões: "O Brasil ganhou a copa/Só jogou no contra-ataque/Levou muitos dirigentes/Para muito pouco craque/Desse jeito o jogo é duro/Com Argentina ou com Iraque/E no último instante/Só não pode é dar empate/Quando em pênalti decide/Quase mata nós de enfarte".
A música é do CD Caminhos me levem (1996) e "celebra" a conquista de 1994, em que Dunga era o capitão. Hoje já deve ser general em graduação máxima... Para que não se diga que a música caipira só se preocupa com amenidades, aqui vai o verso que segue, na canção, o citado anteriormente: "Tem político famoso/Que só fala disparate/Tem banqueiro mafioso/Que não foi pra trás das grades/Valentão só fala grosso/Quando o cão morde, não late/Meu pagode é bom de briga/Isso foi amostra grátis/Só não vou lavar as mãos/Que nem fez Pôncio ´Pilates´" . Que eu saiba é a única incursão do violeiro boa-pinta no gênero que consagrou Tião Carreiro, de quem, aliás, Sater recebeu de presente uma viola, que nem usa, por respeito; deixa-a pendurada em local de destaque onde mora. Tião Carreiro é tão mestre que definiu, com categoria: "Música só tem duas: a boa e a ruim". Que nem seleção que vai à Copa... No futebol e na política a situação não está muito melhor, passados tantos anos. É não?! Por hoje, é isso. * Mensagens para esta coluna devem ser enviadas paraninoprata@yahoo.com.br 26 de outubro de 2008 — Os violeiros Tião Carreiro e Almir Sater, no Programa Viola Minha Viola, da Rede Cultura de Televisão.
Figurinhas da Copa A febre das figurinhas tem cura no Espaço do Colecionismo, onde é possível trocar as que sobram do seu álbum com as que o Edson tem disponíveis no seu acervo. O local, depois das 4 da tarde, vira uma bolsa em que o mercado de figurinhas da Copa ganha dimensões humanas, que não se veem normalmente. Donas-de-casa, executivos, dentistas, jornalistas, autônomos, estudantes, entre outros, batem papo, comentam as novidades e... completam o álbum. Eu mesmo estou perto de fechar todos os selecionados para a Copa do Mundo de Futebol de Botão. Com cortes ou não. O Espaço do Colecionismo fica na Avenida Pereira Barreto, 1.500, Box 34, e o Edson atende pelos telefones 4341-4183 e 7121-7101 |