Nino Prata Maravilhados leitores, não se animem nem me considerem maluco porque os soldados de Dunga não jogaram nesta quinta (17); se treinaram, não sei. Deixo a dungaiada descansando no quartel e falo dos hermanos. Acordar cedo para ver a Argentina em campo é sempre bom, por dois motivos básicos: a seleção de Dieguito "las manos de Diós" Maradona faz a bola rolar com categoria, pelo menos do meio de campo para a frente; o segundo motivo é muito, muito, muitíssimo mais gostoso: a Coréia do Sul pode ganhar o jogo. Na abertura da segunda rodada do Grupo B, no Soccer City, em Joanesburgo, mais de 80 mil privilegiados assistiram de perto aos hermanos praticamente garantirem a classificação para as oitavas com 4 a 1 sobre os coreanos. De quebra, Higuaín é artilheiro da Copa com os 3 gols que fez hoje. Eles parecem ter dito pra gente: usteds Verón que esse jogador não faz falta (a não ser nos adversários) ou, quem sabe, um Verón solo no hace uno equipo... Trocadalhos à parte, estava aí um jogo de alto risco que, por isso, tinha de ser apitado por um árbitro mais do que neutro. Escalaram o belga Frank de Bluckere, de um país vizinho da Suíça, conhecida por sua imparcialidade em assuntos litigiosos. Pois sim... Com um minuto, a Argentina já cobrava escanteio. Aos 3, Tevez, Heinze, Di Maria fizeram bela triangulação (até o Heinze aprendeu a tocar a bola, increíble!!!). Piores momentos Mas, de argentinos, é bom destacar os piores momentos. Num deles, Higuaín, ridículo, se atrapalhou todo com la pelota e quase planta bananeira, próximo à lateral do campo, e ainda fica sem ela, a jabulani; não a bananeira. Isso aos 9 do primeiro tempo. Delicioso, impagável, mesmo, foi ver De Michellis atrapalhar-se mais ainda, nos acréscimos da etapa inicial, procurar a bola e não achar nem ela nem Lee Chung-Yong, à vontade para mandar para as redes de Romero; o goleiro, aliás, protagonizou outro momento desses, ao sair todo atabalhoado, talvez por não confiar na zaga, e tirar a bola totalmente sem jeito das proximidades de sua área, já no segundo tempo. Por isso tudo, é bom sabermos um pouco mais sobre a Coréia do Sul, até mesmo para não confundi-la com seus vizinhos do Norte, que por pouco não empatam com agente. Futebol também é cultura: Seul é a capital sul-coreana, com população de 48,3 milhões em 99.617 km2 (façam as contas para ver se tem muita gente lá). A moeda desse país asiático é o Won sul-coreano - nome de zagueiro, que por isso deve ser moeda forte. Nunca enfrentou o Brasil em Copas - ainda bem; se a do Norte já deu trabalho... - e tem os seguintes times (mais um pequeno exercício de fonoaudiologia): Seong nam Iihwa Chunma, Busan Icoms Park, Suwon Samsung Bluewings, Pohang Steelers, Ulsan Hyundai Horang-i, Chonbuk Hyundai Motors e Chunnan Dragons. Se houver algum craque não valorizado por aqui, tenta fazer carreira lá. Que tal no Busan (por motivos de preferência nacional nossa) ou no Hyundai Motors (só pode ser uma equipe veloz). Perdão, leitores, falávamos do que mesmo? Ah, sim, a Argentina abriu o placar com o que se pode chamar de golaço contra: do 10 (Messi) para o 10 sul-coreano (Park Chu-Young). Já pensou se este cara fosse da Coréia do Norte - no mínimo, prisão perpétua com pena de morte, como agravante. Nisso é que dá treinos secretos: vai ver que o cara quer ir pra Espanha, combinou a jogada ensaiada: Messi cobrou falta da esquerda para o colega tocar de joelho pras redes. Aí estávamos nos 15 do primeiro tempo. Aos 20, Samuel deixou o gramado com a famosa panturrilha avariada, mas voltou enquanto Maradona providencia o aquecimento do substituto do zagueiro. Burdisso entrou aos 23. Aprendam aí, seus técnicos e assistentes: alguém está maus, dá um tempinho e já prepara quem vai pro lugar do contundido. Imagino a cabeça dos sul-coreanos: eles têm fama de confundir adversários porque parecem camuflados - tudo igual -, mas nesse caso os argentinos, no ataque, é tudo igual também: Tevez, Messi, Maxi Rodriguez, Di Maria, Mascherano, Higuaín (tirando o ensaio de bananeira deste). Maradona avaliou que seus pibes jogaram à sua imagem e semelhança: redondo!!! A TV mostrou que, apesar de gorducho, El Pibe ainda mostra categoria. Uma bola perdida vinda do alto parece ter provocado Maradona: ele foi-se ajeitando, de terno e tudo e, sem olhar pra trás, sabia onde estaria a jabulani para devolvê-la com leve toque de calcanhar pro jogo. Bate-boca Maior evento esportivo do mundo (há quem prefira os Jogos Olímpicos), a Copa Fifa deveria chamar atenção pelo bate-bola de alto nível, como o desses hermanos. Mas o bate-boca entre notáveis também sobressai: "Maradona, como técnico, é um ótimo jogador". A frase de Platini, craque francês e presidente da Uefa, me lembra outra de Maradona sobre o atleta do século: "Pelé que volte ao museu". Isso porque Pelé teria colocado dúvidas sobre a capacidade de a África do Sul organizar o Mundial e ainda afirmado que Maradona só aceitou ser técnico por dinheiro. Esse trio bate um bolão, digo, um bocão. Perdão de novo, leitores. Falávamos mesmo é do jogo. Falta perigosa a seu favor, a Argentina teve pra dar e vender. Uma delas em Tevez, aos 32. Maxi Rodriguez cruzou no miolo da área sul-coreana, Burdisso cabeceou para Higuaín, também, de cabeça, marcar o primeiro dele e o segundo da Argentina. Se não bastassem as tais bolas paradas, Messi, por exemplo, fazia belas jogadas. Como já nos acréscimos da primeira etapa, quando dominou a jabulani ("do outro mundo", para Luís Fabiano), deixou três adversários na saudade e tentou, de cavadinha, enganar também o goleiro, sem sucesso. De outro mundo não é a bola; deve ser Messi. Os sul-coreanos abusaram um pouco de faltas, o que no caso, nem deveriam ser sinalizadas por atingir argentinos, e Maradona gesticulava e esbravejava (em que língua?!) com o técnico Huh Jung-Moo. A Coréia do Sul deveria vir para o segundo tempo mais animada pelo gol feito - creio eu - aos 50 do primeiro tempo, mas não. Quem já foi pra cima foi a Argentina... pra cima dos adversários. Gutierrez tomou cartão amarelo antes dos 10 e Mascherano também. O jogo ficou lá e cá com situações de gol equilibradas. Aí, aos 31, em jogada de Messi - que chutou a gol duas vezes, numa delas com rebote do goleiro e na outra com a bola indo beliscar a trave -, Higuaín chegou e ampliou para 3 a 1. Quatro minutos depois, num contra-ataque mortal, os hermanos em 4 toques de bola acelerados fazem a bola chegar para mais um cabeceio de Higuaín, colocado, no canto direito sul-coreano. Maradona colocou um tal de Bolatti (esse, pra mim, uma incógnita) e, antes, já havia mandado Aguero pro jogo. Este, aos 41, enfileirou a sul-coreanada, e aos 47 quase fechou a fatura com chave de ouro. O árbitro belga, diplomaticamente, deu apenas 2 minutos de acréscimo para não judiar ainda mais da Coréia do Sul, que havia estreado na Copa com vitória de 2 a 0 sobre a Grécia. Ícaro voa mais que as Super Águias No Free State Stadium, em Bloemfontein, Grécia e Nigéria se enfrentaram para ver quem mantém suas chances de ir em frente no Grupo B. As duas seleções tinham de voar baixo porque vinham de derrotas, para Coréia do Sul e Argentina. Em se tratando de vôo, os Super Águias estariam em vantagem, se de outro lado não estivessem os que vêm na linha direta de Ícaro. O colombiano Oscar Ruiz poderia ter trabalho na arbitragem, mas de todos em campo era o mais experiente. Bola rolando, os times comandados por um sueco (Lars Edwin Lagerbäck, na Argélia) e por um alemão (Otto Rehhagel, na Grécia) começaram cautelosos, para evitar surpresa desagradável logo de cara. Mesmo assim, com 10 minutos, Karagounis, o capitão grego de 33 anos, já havia cobrado falta, sem perigo. Em dois minutos, dos 12 aos 14, Papastathopouls viu Enyeama adiantado, tentou surpreender o bom goleiro nigeriano (livrara seu time de goleada contra os hermanos), sem conseguir, e levou amarelo por puxar a camisa de um adversário. Uche, aos 15, cobrou a falta, da esquerda, e abriu o placar com a colaboração expressiva de goleiro, zagueiro e quem mais estivesse na área grega. Um minuto depois, Tzorvas entrega o ouro de novo, ao desviar para escanteio uma bola de ataque sem qualquer perigo. A gente já sabe que a diferença de um resultado pode estar no desempenho de um goleiro. Aos 19, falta perigosa de novo a favor da Nigéria, do lado oposto ao que tinha resultado em gol. Na tentativa de jogada ensaiada, os africanos conseguem apenas escanteio. Procurando manter o desejado equilíbrio na partida, a Grécia também ira pra cima, mesmo porque outra derrota seria fatal para suas pretensões. Torosidis participou de dois lances decisivos em menos de dois minutos: ao trombar com Odiah, no alto, quase foi a nocaute, mas se recuperou a tempo de receber um chute na coxa, desferido por Kaita, que infantil e ferozmente foi expulso numa jogada em que a bola estava fora de jogo, nas mãos do grego que iria cobrar lateral. O técnico Otto Rehhagel procurou reeditar um presente de grego pra cima dos nigerianos e colocou mais um atacante, Salpingidis no lugar do zagueiro Papastathopoulos, de nome Sokratis - para alívio dos locutores. Isso aos 36. Três minutos depois, em tabela digna de craques, Salpingidis quase empatou o jogo e, no rebote, conseguiu escanteio. Na cobrança, Samaras chutou com estilo, e Karun tirou a bola quase na linha de gol. Aos 43, a Nigéria começou a desembrulhar o presente de grego. Salpingidis fez o primeiro gol heleno num Mundial e contou com o passe precioso de Katsouranis; a bola ainda desviou na zaga antes de entrar. O Olimpo deve estar em festa. A Nigéria veio para o segundo tempo disposta a pressionar para ver se superava a inferioridade numérica de jogadores. Com 3 minutos já cobrava escanteio, em bola que Tzorvas se esforçou todo para tocar de leve por cima do travessão. O esforço físico dos nigerianos se refletiu logo, com a contusão de Taiwo, aos 7, com substituição logo sugerida pelo seu companheiro Yakubu. A Grécia teve uma oportunidade com Kyrgiakos cabeceando pro chão mas Enyeama abafou bem a bola. Aos 11, Echiéjilé entrou no lugar de Yakubu. Aos 13, os dois goleiros mostraram serviço: em falta cobrada por Salpingidis, na pequena área, Enyeama defendeu chute à queima-roupa; em ataque rápido, a Nigéria deu o troco obrigando Tzorvas a sair bem do gol, dessa vez. O lance mereceu até um beijinho em Katsouranis - sei não... beijo grego não dá sapinho? A Grécia, mais que a Nigéria, dava a impressão de estar mais conformada com um empate, que não interessava a nenhuma das duas, apenas à Coréia do Sul. Mas na certa embalava mais um de seus presentes. Aos 23, Enyeama fez a chamada defesaça, em cabeceio perigoso; aos 24, se não fosse o impedimento marcado, os gregos teriam feito gol; aos 25, a pressão deu resultado, e o presente de grego foi entregue, de novo: em cobrança de escanteio, a bola foi para Tziolis acertar o pé de fora da área; na rebatida, Torosidis marcou o gol da vitória. O Olimpo, ainda bem, não veio abaixo. Penso como os gauleses de Asterix e Cia., cujo único temor é de que os céus caiam sobre suas cabeças. Echiéjilé não deu muita sorte: ficou apenas 18 minutos em campo e também saiu por contusão. Ficou a impressão de que os nigerianos estavam todos um tanto baleados pelo andar da carruagem grega, que mantinha a pressão e ainda contava com o reforço de guerreiros descansados para a batalha. O alvo grego era chegar a melhorar o saldo de gols porque o resultado de 2 a 1 ainda mantinha a Coréia do Sul como segunda no Grupo B. E tome bola na área e haja defesa de Enyeama. Aos 43, Odiah para o contra-ataque grego, puxado num último esforço por Karagounis, e nos acréscimos ainda sai escanteio para a Grécia. Quem está tranquila na chave é a Argentina, com duas vitórias e saldo folgado de gols; a Coréia do Sul empata com a Grécia em gol sofrido, mas tem um a mais marcado. Acho que é isso. Adieu, les bleus! La punition vien a cheval... Não sei se a expressão existe na língua de Camus. Cá entre nós, gosto do futebol francês pela técnica, que já foi mais refinada (vide Platini, Zidane, Tigana, Bossi, Giresse, Trésor), mas nunca vi uma desclassificação (por ora, virtual) de uma seleção ser tão justa porque ela não merecia estar na África do Sul entre as 32 que competem em campo. A França perdeu por a 1 para o México, no Estádio Peter Mokaba, em Polokwane, no jogo de encerramento da segunda rodada do Grupo A, num jogo em que as duas estavam a perigo na classificação para a próxima fase da competição. Os hermanos do Norte empataram por 1 a 1 com a África do Sul.. Os franceses, nesta quinta (17), como em tantas outras vezes, se perderam em preciosismos, como um toque a mais na bola, em vez de fazer o passe ou chutar a gol. Ribéry, se foi caçado em campo, também não conseguiu resolver a parada; no banco, Henry congelava, ao lado do supostamente impassível Domenech. Cada vez mais passivo, na hora de treinar e escalar a equipe. Rafa Márquez, Salcido, Blanco - veterano em sua terceira Copa -, Giovanni e Hernández, que entrou no segundo tempo, a meu ver se destacaram positivamente na partida; e Abidal, no lado mais negativo. A França abusava dos toques no meio de campo, mas não sabia marcar nesta zona do gramado. De onde Rafa Márquez fez o passe milimétrico para Hernández. Abidal dava condições ao atacante, que deixou a bola resvalar em seu peito, levou-a cuidadosamente até a área francesa, driblou o goleiro e marcou, aos 18 do segundo tempo. Aos 32, pênalti de Abidal (que tomou cartão amarelo) em Barrera. Blanco cobrou com mestria, rente à trave direita de Lloris, que adivinhou o canto, mas nada além disso. Há quem use a expressão: o México só precisou de um tempo para liquidar a fatura. No jogo todo, o que se viu foi uma França que organizava jogadas de ataque, mas tomava os contragolpes, com Salcido pela esquerda criando situações perigosas para os bleus. Nem o insinuante Diaby, escalado desde o início, deu conta de aterrorizar os mexicanos, por mais que seu nome lembre o da entidade infernal. Quem mandou a França tirar a Irlanda nas Eliminatórias, com gol surgido de toque de mão de Henry. Não duvido se a festa estiver maior, nesses dias, em Dublin do que na Cidade do México. - Juanito Coxabamba, da Catalunha, me emeia para dizer que a Espanha já tem novo técnico e faz gestões na Fifa para que ele estreie ainda no Mundial. Sai Del Bosque, entra Dá Bronca.
- Rodrigo, de São Bernardo, me informa que a camisa da seleção do tio Sam é referência (não sei se nesse caso se diz retrô) à de 1950, quando os Estados Unidos se saíram bem na Copa realizada no Brasil. Quem mandou eu ser colunista mal informado...
- Magaiver, de Osasco, num esforço de pesquisa, me manda letras do que se pode chamar de hino brasileiro da Copa. Criação dos Manos, na 89 FM, elas se encaixam numa conhecida música para chamada de programa esportivo. O recado inicial pro técnico canarinho dizia algo assim: "Eu sei que o Dunga não escuta ninguém, mas os Ronaldo é o melhor que nóis tem..."
Prometo voltar ao hino. - Não peça para um gago falar Papastathopoulos porque vai dar no mínimo meio tempo de jogo. O 19 grego tem o sugestivo nome Sokratis, aliás o que ele usa na camisa, sem ficar constrangido de saber que já tivemos por aqui o Dr. Sócrates.
- Para Agamenon Mendes Pedreira, colunista que acha que a comissão técnica deve ser de 20%, "um elefante incomoda muita gente, uma vuvuzela incomoda muito mais" e "o árbitro faz o monge".
- Um âncora de TV sul-africana tenta encorajar os Bafanas, para que não se deixem abafar pela derrota contra o Uruguai, e se sai com essa: "Depois do que aconteceu com Brasil e Coréia do Norte, tudo é possível". Muy amigo esse âncora! E pensar que um brasileiro é o técnico dos verde-amarelos deles.
_________________Na estrada___________________ Mais frases alternativas para os ônibus das delegações: - Inglaterra - "Jogando com orgulho e glória"
Prefiro CHÁ COM A GENTE - Dinamarca - "Tudo de que você precisa é um time dinamarquês e um sonho"
Muito melhor seria: FICAREMOS COM OS LOUROS DA VITÓRIA - Espanha - "Esperança é o meu caminho. Vitória, meu destino."
Que tal: NÃO VAMOS FAZER FEIO: CONVOCAREMOS A PENÉLOPE CRUZ - Camarões - "Os leões indomáveis estão de volta"
Na verdade, UM TIME MEIO SEM CABEÇA, MAS CHEIO DE PERNAS - Coréia do Sul - "Os gritos dos vermelhos, República da Coréia Unida!"
Até que tentaram: VAMOS NOS MATAR EM CAMPO. MAS, SE O JOGO FOR CONTRA A COREIA DO NORTE, MATAMOS ELES Por hoje, é isso. Mensagens para esta coluna devem ser enviadas para ninoprata@yahoo.com.br fotos: agência brasil Lembro que o texto desta coluna sai também no site www.cliqueabc.com.br fotos: AFP charge; dalcio, sonfrônio, seri, bira |