Sábios leitores, guerra santa no futebol? Só faltava esta. Kaká, o queridinho de muita gente por seus dotes futebolísticos e por outros atributos, deu agora para ir na esteira do general Dunga e atritar a imprensa. O pior é que, a meu ver, o fez da maneira mais incorreta. Um jornalista participa da coletiva do jogador e, na espera da resposta à pergunta feita, surpreende-se que o 10 da seleção de Dunga comece a tripudiar sobre algo que o pai desse jornalista teria escrito a respeito do Kaká. Dando nomes aos bois: André Kfouri, jornalista da ESPN e do Lance, filho de Juca Kfouri, este para mim um ícone da mídia esportiva escrita e respeitado por suas posições corajosas frente assuntos que se refiram a ou tenham a ver com futebol. Conheci o Juca cidadão e convivi mais com essa pessoa do que com o Juca jornalista especializado em esportes, notadamente futebol. Agora, vem o Kaká dar a entender que o Juca o persegue, que, por ser ele, Juca, ateu (palavras de Kaká) tem preconceito com Kaká, por ser o jogador evangélico. Me poupem! Guerra santa no futebol, na na ni na non (é assim que se escreve?), e vinda do Juca Kfouri? Duvido. Faria muito melhor o Kaká se convidasse o Juca para um bate-papo, tomando um cafezinho ou, sei lá, num almoço ou num jantar, para tirarem as diferenças. Agora, usar de uma coletiva, em que o citado desafeto não se encontra e mandar recado pelo filho dele, que está ali a trabalho, só pode ser algum item da cartilha dunguista. Até Felipão, pasmem, acha que Dunga exagera em seus ataques à imprensa. Se me permitem, leitores, e o Kaká e o Juca também, estudei Filosofia e Teologia, sou cristão, mas sem fanatismos. Antes de se decidir por alguma religião, o indivíduo tem de procurar ser pessoa íntegra, ética antes de mais nada. Conheço muito colega na profissão, na qual sobrevivo desde 1972 (façam as contas), que não é religioso, mas tem caráter, é íntegro, não se contenta em conhecer a história recente deste país, mas procura fazer parte dela. Juca é uma dessas pessoas, que o digam a sua militância sindical, a sua participação em episódios decisivos pela redemocratização do País. Kaká, menos alarido, por favor, e mais futebol, se você estiver em reais condições de jogá-lo, como sempre fez - pena que não no Corinthians.
A conquista é vermelha Vestida de vermelho, a Inglaterra veio para o jogo decisivo no Grupo C e um dos mais importantes em sua história de inventora do futebol (os brasileiros aperfeiçoaram o esporte, mas alguns se esqueceram de como se faz). Tinha de vencer a Eslovênia no Nelson Mandela Bay, em Porto Elizabeth, e ainda torcer por resultado que lhe fosse favorável no confronto de estado-unidenses e argelinos, na outra partida da chave. Líderes até ali, os eslovenos não poderiam acomodar-se nos 4 pontos conquistados porque até mesmo a última colocada, a Argélia, com 1 ponto apenas, poderia surpreender em caso de vitória sobre os Estados Unidos. Jogo duro, arbitragem séria do alemão Wolfgang Stark. Quem sabe o vermelho das Cruzadas deixasse os britânicos mais aguerridos. No início, Johnson pegou Kirm na lateral do campo, para impedir a saída rápida de bola do adversário. O lateral-direito inglês parecia não estar num de seus melhores dias porque já se atrapalhara todo, próximo de sua área, ao tentar domínio da jabulani, que lhe escapou por baixo das pernas. Dois minutos depois, Rooney impediu nova arrancada eslovena, derrubando o adversário por trás, e foi advertido pelo árbitro. Aguerrida, a Inglaterra estava; modificada também. Capello colocou Upson, Milner e Defoe, este ao lado de Rooney no ataque. A Eslovênia, muito bem armada, saía rápido ao ataque. Aos 13, começou o coro que incentiva os guerreiros: "God save the queen", "England, England", cantou a torcida a plenos pulmões. Foi uma sequência de 3 jogadas contra a área eslovena para uma de Birsa contra o gol de James, em cobrança de falta. A encarnação do espírito de luta era Rooney, que acreditava em todas. Aos 21, dominou a bola, quase perdida à esquerda, no encontro da linha lateral com a de fundo, e armou a jogada de ataque. Aos 23, Defoe, mesmo com marcação de zagueiro, abriu o placar, à moda dos centroavantes, depois de receber cruzamento da direita, feito por Milner depois de boa troca de passes. O próprio Defoe, 3 minutos depois, pegou mal o rebote, em jogada que foi replay da que resultou no gol, até ali salvador. Aos 29, a jogada de ataque mais benfeita da partida: Defoe, de novo, acerta o pé, o goleiro rebate, Gerrard ajeita de cabeça para Rooney, que lhe devolve a bola para o arremate, colocado na direção do canto esquerdo de Handanovic; quase surge outro frango na Copa. O bom lateral-direito esloveno, Brecko, ainda tirou uma bola de peito, quase no chão, vinda em chute cruzado, próxima do canto direito da sua meta, e a Eslovênia teve outras duas cobranças de falta a seu favor. Aos 43, Defoe sofreu falta, não marcada, ficou meio grogue e saiu dando sinais de que não voltaria. Wolfgang acabou o primeiro tempo aos 45, em ponto. Na volta das equipes ao gramado, assisti aos 34 segundos mais disputados na Copa, com o gol mais perdido também: Handanovic tenta impedir que saia mais um escanteio, não consegue; Rooney cobra rápido, a defesa rebate mal, a bola sobra para Defoe, livre, de costas pro gol, dar um toquinho... pra fora. Os cruzados vermelhos jogavam melhor. Aos 4 minutos, Defoe marcou o segundo, mas havia impedimento de Rooney. Em rapidíssimo contra-ataque da Eslovênia, em chute de longe, James teve de se virar porque havia um atacante na espera da sobra de bola, que não aconteceu. Lampard, Gerrard e Rooney, aos 7, em tabela sensacional, pararam na marcação cerrada eslovena; aos 9, Koren cobrou falta, venenosa, ao tentar que a bola quicasse perto do goleiro, que conseguiu abafá-la; aos 11, Terry cabeceou certinho, no canto direito, para defesaça de Handanovic, à la Banks na Copa de 70 - que ironia! Rooney parece que reencontrou o futebol que ele sabe jogar e esteve perto de fazer o gol dele também, como aos 12, quando desviou do goleiro e mandou a jabulani de leve na trave; um minuto depois, linda jogada do 10 inglês, na área inimiga, com direito a elástico no seu marcador. A Eslovênia, com a entrada de Dedic, arquitetou a chamada blitz pra cima da área inglesa, aos 22, com jogada muito bem tramada, com corte seco no zagueiro, chute pro gol, rebatido por James; o arremate veio forte, de fora da área, e Terry mergulhou de cabeça rente ao chão; se a bola viesse ali, bateria nele, mas foi pra fora. Os 15 minutos finais foram dramáticos pros dois lados: o número de faltas aumentou, par a par, os cartões amarelos se sucediam e, num escanteio, aos 39, todo o English Team estava em sua área para evitar o pior. Tomar um gol seria desastroso. O árbitro alemão acrescentou 3 minutos, para aumentar ainda mais a adrenalina. Sempre que tomava a bola em sua defesa, a Inglaterra ia cautelosa até o meio de campo, fazia as jogadas rente à linha lateral e, assim, segurou o placar que lhe era favorável. Se o drama inglês não chegou a uma tragédia shakespeariana, os eslovenos tiveram um castigo que não mereceram, não por este jogo. Até o apito final, em Porto Elizabeth, eles eram o segundo colocado, com os britânicos em primeiro. Mas aí, no outro jogo, os Estados Unidos fizeram o gol nos acréscimos, tomando a vaga da Eslovênia. A Inglaterra custou a fazer valer o que disse o técnico Fabio Capello ainda antes do início da competição. "Minha meta é a final" é o título da entrevista que ele concedeu ao Guia da Copa 2010 Placar. Na opinião de Capello, "nosso time é muito bom. Se todos os jogadores estiverem bem fisicamente na Copa do Mundo, podemos bater qualquer time". Terminada a primeira fase dos grupos, o ítalo-britânico chegou a estar na corda bamba ante rumores de desentendimento entre ele e Terry (desmentidos) e, sobretudo, por não ter ainda conseguido estabelecer um sistema de jogo que faça o English Team ir muito além dos 2 empates nas duas primeiras rodadas, o segundo deles com a inexpressiva Argélia. Os súditos da rainha sentiram-se, neste jogo, mais em casa do que nunca, por ir a campo no estádio que fica na cidade que leva o nome da soberana. Talvez por isso, também, jogaram futebol, vestidos de vermelho. Deus salve a rainha, os jogadores, a comissão técnica e, mais do que ninguém, o Capello! A Inglaterra conseguiu a classificação às oitavas com:
Águia-calva ferra eslovenos Estados Unidos e Argélia, na outra partida do Grupo C, não fizeram jogo menos dramático do que o de eslovenos e britânicos. No Loftus Versfeld Stadium, em Pretória, era o caso típico de tudo ou nada; vida ou morte em termos de classificação. A Argélia foi logo ao ataque e criou duas chances de gol, numa delas a bola explodindo no travessão. Os Estados Unidos responderam com Dempsey, que até marcou, mas o belga Frank De Bleeckere sinalizou impedimento, no mínimo duvidoso, se não mal marcado. Mais um ato terrorista - mas de um belga? Bradley, o filho do técnico, também levou perigo à meta de M´Bolhi, mas o arremate saiu em cima do goleiro, que rebateu e torceu pro chute final ir por cima; Alá é misericordioso! Ao menos dessa vez. Pelas oportunidades criadas, a partida foi equilibrada no primeiro tempo e permaneceu assim por quase toda a etapa final. Aliás, em todo o segundo, sim. Nos acréscimos é o que o bicho pegou, ou seja, a águia bicou. Dempsey conseguiu no tempo normal, em boa trama, mandar a bola na trave direita, pegou o rebote e chutou por cima do gol. O brasileiro Feilhaber por pouco não fez o dele, mas o que conseguiu foi consagrar o goleiro argelino, que defendeu o cabeceio perigoso e ainda abafou a bola na sequência. Nos acréscimos, quando muita gente se acomodaria, Donovan, em contra-ataque, pegou o rebote e fez 1 a 0. Teve tempo para o argelino Yaha ser expulso, e parecia não entender o motivo. Foi o dia de a águia-de-cabeça-branca mostrar a sua força, suficiente para caçar a raposa do deserto. Também chamada de águia-calva (nenhuma referência ao técnico Bob Bradley), símbolo dos Estados Unidos, conhecido em todo o mundo, a sua bicada foi letal nem tanto em cima dos argelinos, mas sobre os eslovenos. Com a vitória por 1 a 0, nesta partida, a Eslovênia, até ali líder do Grupo, foi desclassificada. A seleção de Bob Bradley ainda por cima assumiu o primeiro lugar, classificando-se a equipe de Capello em segundo. Confira como ficou a posição de cada time na chave:
Juventude resolve A Alemanha, depois de estrear bem no Grupo D com goleada de 4 a 0 na Austrália (esses cangurus não vão bem das pernas), se via agora na obrigação de vencer Gana para não depender de nenhum resultado na classificação para as oitavas de final. O equilíbrio do Grupo é ímpar porque até mesmo a Austrália, com apenas 1 ponto em dois jogos, iria enfrentar a Sérvia com chances de subir na tabela, dependendo do que acontecesse com os demais times. Ao contrário da confiança-quase-certeza de Capello, da Inglaterra, o técnico alemão Joachim Löw era reticente: "Argentina, Brasil e Espanha ... Temos um time jovem. Podemos ir longe, mas não estamos entre os favoritos, como esses três". Se a Alemanha empatasse, Gana somaria 5 pontos; mas aí se Sérvia vencesse a Austrália - o que não seria de espantar -, iria para a liderança com 6 pontos. Bola rolando, no Soccer City, em Joanesburgo, com arbitragem do brasileiro Simon, o que se viu foi um jogo equilibrado, com a Alemanha variando mais as jogadas de ataque, com 3 à frente, Cacau um deles, e Gana fazendo prevalecer o seu domínio de bola e a técnica de jogadores como Gyan e Ayew. O meio de campo ganense fazia marcação especial em Schweinsteiger, para evitar que o alemão, experiente, armasse as jogadas de ataque. Os jovens Özil e Müller ficavam mais soltos, um do meio pra direita; outro do meio pra esquerda. E Cacau se movimentava tanto, a ponto de ajudar na defesa. Podolski, nos primeiros 10 minutos, levou perigo ao goleiro Kingson, e numa delas Jonathan Mensah, ao tentar tirar a bola, quase marcou contra, se não fosse o goleiro desviar para escanteio. Cacau fechava no meio da área. Gana chegou a ameaçar aos 13, em boa jogada de Asamoah, pela esquerda, confundindo a defesa alemã, que bateu cabeça e pernas. A bola sobrou para Gyan, que cruzou. A zaga cortou. Cacau, em boa jogada, deixou Özil à vontade para levar a bola, passar pelo seu marcador e, cara a cara com Kingson, chutar em cima do goleiro. Como pode perder um gol desses? Para não ficar atrás, Gyan fez uma das suas, esnobando a marcação com drible desconcertante. Conseguiu escanteio e, na cobrança, Lahm tirou de peito a bola que entraria rente ao segundo pau. Cacau e Schweinsteiger ainda obrigaram o goleiro ganense a trabalhar: o brasileiro, ao concluir, mesmo diante de dois adversários, para Kingson cair e segurar firme; o 10 alemão, em cobrança de falta, já aos 40, chutou forte em direção ao canto esquerdo, para outra importante defesa do goleiro. As chances de gol (5 a 3), as faltas (apenas 3 de cada lado), os escanteios e mesmo os cartões amarelos dão a exata noção do equilíbrio no primeiro tempo, que terminou 0 a 0. Na combinação desse resultado com o da outra partida, Gana e Alemanha se classificavam. No segundo tempo, Gana voltou com mais variação no ataque, tanto que Gyan passou a atuar pela esquerda. Mas a blitzkrieger poderia acontecer a qualquer minuto. Numa das subidas da Alemanha ao ataque, Pantsil espanou o taco, a bola ficou perigosamente na área porque o goleiro saiu errado, e o que valeu foi o espaço estar congestionado, dificultando a finalização a gol. Gana se fechava em sua área com até 8, como é comum se ver nesta Copa. Mas quando atacava, punha chucrutes pra dançar, como em jogada de Gyan. Lahm deu o troco, ao recuperar a bola e sair pro jogo com categoria. O equilíbrio do primeiro tempo persistia, até que Özil, aos 14, recebeu passe na medida de Müller, da direita, e acertou o pé, em finalização precisa, à meia altura, no canto direito de Kingson. Com o gol a Alemanha passou a liderar o Grupo. Em resposta, Gana conseguiu dois escanteios no mesmo minuto, aos 16, e começou a fazer substituições para dar consistência na marcação, com a entrada de Muntari. A Alemanha colocou Trochowski, que, zero bala, fazia boas triangulações com Özil e Cacau. Numa das arrancadas do brasileiro, já na área ganense, teve até drible da vaca, com a bola rolada para Podolski encher o pé, de fora da área, e a bola explodir no queixo de Sarpei; quase nocaute. O jogo ficou complicado para Gana com o que se passava no duelo de australianos e sérvios. No banco de reservas ganense, a confabulação era visível, com jogadores fazendo contas nos dedos, certamente sabedores de que a Austrália surpreendia, ao marcar duas vezes. Nada que tirasse a concentração de quem estava em campo. O resultado deixou a Alemanha em primeiro e Gana em segundo. Os responsáveis pela classificação são os seguintes times:
Cangurus surpreendem Austrália e Sérvia, no Mbombela Stadium, em Nelspruit, com arbitragem sofrível do uruguaio Jorge Larrionda, fizeram um jogo também equilibrado, com a diferença de os sérvios criarem suas chances de gol já no primeiro tempo, com Zigic, e os australianos só acordarem no segundo. O jogo terminou em 2 a 1 para a Austrália, resultado que desclassificou as duas seleções e tirou a esperança de os europeus conseguirem somar um pontinho com gols que os levassem ao segundo lugar. Imagina o sofrimento dos ganenses. Os australianos, como fizeram 2 a 0, poderiam – se marcassem mais 2 gols – ficar com a vaga para si. A chave estava bem-embolada. Cahill fez o primeiro gol dos cangurus, ao cabecear firme no canto direito de Stojkovic. O segundo foi um golaço, da intermediária, com a bola indo parar também no canto direito do goleiro sérvio. Brett Holman recebeu, livre, de Culilna e não perdoou. Pantelic descontou para a Sérvia, aos 38, em chute certeiro de direita. Os sérvios reclamaram muito da arbitragem por impedimentos, no mínimo, duvidosos, assinalados por Larrionda e pela não marcação de pênalti. O que poderia ter feito a diferença. Os milhões que valem
Baú de surpresas
Frases
Na estrada com Valquíria
Por hoje, é isso. Lembro que o texto desta coluna sai também no sitewww.cliqueabc.com.br fotos: getty images charge; aroeira |
24 de junho de 2010
A SELEÇÃO CHEGOU A PONTO CRÍTICO
23 de junho de 2010
Tabela da Copa do Mundo 2010
Tabela da Copa do Mundo 2010 em arquivo de Excel. Ao completar os resultados da primeira fase, a tabela informa o posicionamento das equipes dentro dos grupos e se auto completa informando as próximas partidas. Além de mostrar quem enfrenta quem na Copa, a tabela conta com os horários dos jogos. Esta tabela também ajuda para quem quer fazer um bolão de apostas. Simula os resultados dos jogos, já prevendo as chaves a partir das oitavas de final. |
A SELEÇÃO CHEGOU A SE PRESERVAR
Reticentes leitores, se vocês são daqueles que ficam com os pés atrás sobre as reais chances de os soldados de Dunga baterem os patrícios encarnados (nada com encarnação, reencarnação - esta, muito menos, porque não dá para escalar Garrincha, por exemplo; apenas referência à cor oficial das camisolas d´eles). Então, se vocês estão entre esses, saibam que é para se ter dúvidas mesmo, mas nunca perder a esperança. Espero, por exemplo, que nesses dias de intervalo entre uma partida e outra - em que a seleção canarinho, presa em gaiola de ouro, é verdade, se preserva -, nem por isso os comandados de Dunga descuidem do preparo físico-tático-operacional-psicossocial-político, com especial atenção a Elano. De tão macho, tchê, nem de maca saiu a caminho do vestiário e já foi testando o pé, ali mesmo, tal qual o saci-pererê. Taí, que o saci-pererê supere os mulas-sem-gols-de-cabeça na sexta-feira (25). Aí veremos, raios, quem tem mais vidros a vendeire. Sem essa de deitar em berço esplêndido (os da delegação, certamente o são); tomemos por empréstimo o bordão: "Às armas!!! Às armas!!!". Afinal, fez-se o Acordo Ortográfico para uniformizar as línguas, ora, pois!
Briga de hermanos"Pìor que briga de foice no escuro" é como chamamos por aqui uma situação complicada. Talvez o adjetivo não seja este (aceito sugestões), mas México e Uruguai entraram no Royal Bafokeng, em Rustemburgo, para ver qual dessas seleções ficaria em primeiro no Grupo A, para não ter de pegar, ou ser pega, pelos comandados de Dieguito "las manos de Diós" Maradona nas oitavas. O que era quase certo. Quem se deu melhor foram os uruguaios, ao vencer o jogo por 1 a 0. No primeiro tempo, o Uruguai criou mais chances de gol, e Suárez teve o trabalho de apenas escorar, de cabeça, cruzamento preciso de Forlán, da direita, aos 42. O centroavante já havia chutado, cruzado, na primeira investida uruguaia, com a bola indo a tiro de meta. E aos 17, Victorino cabeceou por cima bola vinda de escanteio cobrado com mestria por Forlán. Guardado, quem diria, um volante, foi quem concluiu para a meta de Muslera, e a bola caprichosamente acertou a trave direita. Mais ofensiva, a seleção uruguaia fez por merecer ser o líder do Grupo A. Forlán dita o ritmo de jogo, não erra cruzamentos nem cobranças de falta ou escanteio, como aos 8 do segundo tempo, quando Lugano cabeceou para defesa espetacular de Pérez. O México teve os seus momentos de pressão e, aos 19, quase marca com Rodríguez que, de peixinho, cabeceou com perigo. Os uruguaios até poderiam ter ampliado o placar, não fosse o goleiro mexicano defender a jabulani que iria entrar no cantinho direito de sua meta. Mesmo nos acréscimos, a pressão uruguaia foi mais sentida. México e Uruguai passaram às oitavas de final com estes times:
Confira a classificação:
Forças X fraquezas Acompanhar 3 jogos no mesmo dia, como aconteceu até o término da segunda rodada dos grupos, já não era lá muito fácil, mas pra quem gosta de futebol a missão até se torna prazerosa, se os jogadores e os árbitros colaborarem. As rodadas que definem os classificados às oitavas, no aspecto número de partidas, ficam ainda mais complicadas: são duas disputas ao mesmo tempo, no mesmo grupo; pelo menos ficamos livres do jogo do sono, aquele que aqui começava às 8h30. Leitoras e leitores, por isso, devem ser ainda mais compreensivos com o colunista em suas (minhas) pisadas na bola. França e África do Sul (se fosse contra a Argélia, seria clássico regional) decidiriam apenas quem sai mais pê da vida da competição no Grupo, ao confrontar forças e fraquezas das duas seleções. No Free State, em Bloemfontein, as escolas francesa e sul-afro-brasileira ficaram no 2 a 1, para os anfitriões da Copa, e as duas seleções foram reprovadas. Aguardam para ver se terão segunda época, daqui a 3 anos, nas Eliminatórias para 2014. Oscar Ruiz, colombiano, deu aquela mãozinha para o time da casa, ao expulsar Gorcouff, por falta em Sibaya na área sul-africana, por entender que houve cotovelada, suponho. Mas não foi por isso que o time de Parreira foi para os vestiários com 2 a 0 sobre a equipe arranjada por Domenech. O primeiro gol saiu em escanteio cobrado por Tshabalala, autor do primeiro gol da Copa; a bola passou por toda a zaga francesa, Lloris caçou borboleta, e Khumalo não desperdiçou a chance de fazer o dele, de cabeça. Ribéry, se tivesse bicho na partida, deveria receber por todos os outros, porque, além de se esforçar no ataque, foi o melhor da defesa, ao roubar bolas dos atacantes sul-africanos. Aos 37, numa pixotada da zaga francesa, Masilela tomou a bola, levou pra linha de fundo e colocou para Mphela entrar com a jabulani, mesmo pressionado por um zagueiro, pra dentro do gol: 2 a 0 (llora, lloris!). No segundo tempo, a África do Sul dominou o meio de campo, se segurou o quanto pode na defesa porque a França precisava ao menos de uma despedida honrosa, no campo. Já nos bastidores... Os sul-africanos tiveram oportunidades para ampliar em 2 ou mais gols o resultado, que ainda deixariam os bafana bafana com chances de classificação pras oitavas. As mais agudas, desperdiçadas por Mphela. Os franceses pressionaram, sem afobação, para chegar ao gol de Josephs. O máximo que conseguiram foi complicar a vida dos adversários. Em boa troca de passes, Sagna-Ribéry, saiu o cruzamento para Malouda marcar, sem goleiro, aos 25. As duas seleções morreram abraçadas, a França num vexaminoso último lugar do Grupo. A torcida local soube entender mais do que as limitações do time os esforços dos jogadores e as oportunidades criadas, desde a primeira partida. Como é que alguém, em sã consciência, poderia querer que a África do Sul se desse bem na Copa, se nem todos falam a mesma língua por lá? Há exatos 11 idiomas no país-sede: inglês, africâner, ndebele, sesotho do norte, sesotho do sul, suázi, xitsonga, setswana, venda, xhósa e zulu. Um pra cada posição no time titular. Coitado do Parreira nas preleções! Pelo menos há algo que iguala esses sul-africanos à França, seleção na qual ninguém parece se entender. Já pensou um zulu de ponta-esquerda? E o ndebele na zaga (se puser um "p", seguido de "m", fica que nem um partido daqui, que adora fazer alianças); o volante suázi, a meu ver, seria o mais didático (lembra o nome da cartilha em que aprendi a ler, no primeiro ano de grupo escolar, Caminho Suave). No PIB per capita, por exemplo, a França goleia: US$ 31,9 mil, em uma população de 65,4 milhões de franceses, comparados com US$ 10,6 mil para 47,9 milhões de sul-africanos. Parreira nunca foi tão analítico como quando disse ao Guia da Copa 2010, da Placar: "Não vou colocar na minha cabeça, nem dos jogadores, que podemos ser o primeiro anfitrião a não passar de fase. Um dia vai acontecer". Pena que esse dia foi hoje (22/06). Entre o brilho de 1998 (em que foi campeã do mundo em jogo contra o Brasil) e a frustração de 2002 (quando o favoritismo pela conquista da Copa anterior findou na primeira fase), a França de Domenech ficou com o segundo. O técnico não deve ter consultado com apuro os astros; dizem que Domenech procura saber o signo de cada atleta antes de formar o elenco. Mãe Dinah faria melhor...
Grécia e Argentina foram a campo, no Peter Mokaba, em Polokwane, reeditar a versão contemporânea da guerra de Troia, em situações bem diversas de uno equipo para otro. Dieguito de Troia chamou soldados da reserva, confiante em que sua carreira brilhante, dentro e fuera de la cancha, inspirasse seus pibes a fecharem a participação no Grupo B 100%. Conseguiu um potrinho de Troia em cima dos gregos: 2 a 0, gols de Demichelis e Palermo, no segundo tempo. Já os gregos, ressabiados com troianos de longa data, teriam de ficar espertos agora com os hermanos. Botou pra jogar o que tem de melhor no seu futebol, na visão do comandante-em-chefe Otto Rehhagel. Papadopoulos (que o locutor não acertou pronunciar uma vez sequer no primeiro tempo; mudei de canal) e Papastadopoulos (este leva Sokratis na camisa, pra facilitar) poderiam ser as armas secretas que ajudariam a confundir os argentinos. Verón, se ditava o ritmo, até que foi coerente; já não é tão rápido como quando era mais novo; mas não foi substituído. Messi, quando tentava arrancar, passava por um, mas lá estavam mais cinco para ser ultrapassados. Quando conseguiu limpar a jogada por completo, teve em Tzorvas um estorvas: defendeu cada bola, que nem Zeus acredita. Num dos chutes – na verdade verdadeiros mísseis, a bola por pouco não arrebenta a trave – bateu e voltou na intermediária; em outra, a jabulani quis conhecer Palermo, que não perdoou – este foi o segundo gol. A Grécia, fechada em sua área com até 8 guerreiros, às vezes arriscava lançamentos, e Karagounis, num deles, deixou Samaras na cara do gol, nas costas da zaga, perdendo-se a jabulani pela linha de fundo. Escanteios, a Argentina teve 5, só no primeiro tempo; faltas próximas da área, umas 3; a mais perigosa, Messi fez que ia, mas deixou pra Verón chutar fraco na barreira. Ainda no primeiro tempo. O segundo tempo não foi muito diferente do primeiro, a não ser pela vontade do comandante grego de fazer logo as substituições, para ver se a equipe ficava mais ofensiva. Mesmo porque se defesa argentina titular já não é lá essas coisas, imagina a mista. O frio que faz em São Bernardo do Campo (SP), de onde teclo essas mal traçadas linhas, mais as 40 gotas de dipirona que tomei pra segurar uma dor no corte do dedo, e aquele futebol de toque pra cá, toque pra lá; mais a Grécia sem poder de reação quase me levaram aos braços de Morfeu. Foi quando saíram os gols, ai os locutores gritam mais alto e me acordaram. No jogo entre Nigéria e Coréia do Sul, como neste de gregos e hermanos, o futebol moderno e globalizado deu as caras do mesmo jeito: um gol de zagueiro e outro de atacante. Messi ainda não marcou. Que os mexicanos se cuidem. Os hermanos que levaram a Argentina para as oitavas foram:
Confira a classificação:
Super Águias boas de bico No outro jogo do Grupo B, Nigéria e Coréia do Sul foram para os vestiários no 1 a 1, no final do primeiro tempo e, depois dos acréscimos, no término do jogo, continuaram iguais: 2 a 2. Resultado que classificou os sul-coreanos (atrás dos argentinos), que por enquanto salvam o continente asiático. Já as Super Águias, muito boas de bico, se juntam a Camarões e África do Sul, deixando o continente africano a ver navios (ainda bem que os negreiros sumiram faz tempo). Mas foi a Nigéria que saiu na frente com o gol de Aiyegbeni, que classificaria a Grécia em segundo, se mantivesse o empate com os hermanos. Aí a Coréia do Sul foi e empatou com o zagueiro Lee Jung-Soo. Futebol moderno e globalizado esse dos pernas-curtas, que lutaram com todos os golpes legítimos para se classificar. Segundo tempo, os sul-coreanos passaram à frente e estavam mais classificados do que nunca, com o gol de Park Chu-Young. O 10 deles jogou muito e saiu extenuado, já nos acréscimos, mas feliz. A Nigéria ainda empatou de novo (com o gol de Kalu Uche), criou mais situações de marcar, uma delas grotescamente desperdiçada. Acredito que o segredo dos sul-coreanos foi confundir os nigerianos, ao colocar três Kim no segundo tempo. Já aviso que o truque não surtirá efeito contra os lusos, caso se cruze, porque, de Jô A - Kim, eles entendem. Com a segunda vaga do Grupo B para a Coréia do Sul, vamos continuar com nossos exercícios de fonoaudiologia ao menos durante as oitavas. Pelo menos dos gregos já estamos livres, Katsouranis! Os bravos guerreiros asiáticos que levaram a Coréia do Sul à próxima fase foram:
A Copa dos passes
Baixaria sulina Dunga soltou cobras e lagartos pra cima do jornalista Alex Escobar, conhecido na telinha por seus pitacos. "Besta", "burro" e "cagão" teriam sido as palavras endereçadas pelo furibundo gaúcho ao repórter. Maradona já foi punido por ter-se dirigido à imprensa argentina com sonoros: "Que chupem todos, e continuem chupando", logo depois de conseguir a classificação para a Copa, ao vencer o Uruguai. Num ponto El Dieguito e Dunguita teriam de se parecer (às vezes, este me lembra a Mafalda, de Quino, ou seria o irmão dela - coitada!). Deve ser coisa de baixaria sulina (vizinhos de fronteira). Ou melhor, suína.
Cadê o molinete?
Futebol e solidariedade
Frases da Copa
Na estrada com Valquíria
Por hoje, é isso. Lembro que o texto desta coluna sai também no sitewww.cliqueabc.com.br fotos: afp, reuters charge; fernandes, fred, dálcio, samuca, mariano |
22 de junho de 2010
A SELEÇÃO CHEGOU A BAIXAR A TROMBA
Queridos leitores, hoje vou dar descanso de novo aos soldados de Dunga porque da outra vez deu certo. Lembram-se? Depois da vitória magra contra a Coréia do Norte, segui os conselhos de Daniel Alves: “até o próximo compromisso, descansar bastante”. E a seleção canarinho vai precisar estar muito bem, contra Portugal, como vocês lerão adiante. Ainda mais que, no domingo (20), as canelas brazucas saíram muito esfoladas. A Costa do Marfim não esperava muito desta Copa, eu esperava mais da Costa do Marfim – mais futebol, lógico. Mais criação de chances de gol. Ora, dirão, mas a defesa brasileira esteve perfeita; digo: quase... Dr ogba cabeceou livre de marcação ao fazer o gol dos marfinenses, o primeiro em Copa do Mundo. Devem estar comemorando como se ganhassem o título. Luís Fabiano desencantou, e seu segundo gol só não foi aço aço aço por ter o atacante usado a mão para ajeitar a jabulani. Esta, agora, para ele, deixou de ser sobrenatural. A vitória incontestável do Brasil baixou a tromba de marfinenses que acharam que poderiam ganhar da seleção de Dunga; e baixou a tromba do treinador brazuca também. Dunga está muito mais pra Feliz agora; só ficou Zangado com as pisoteadas dos elefantes em canarinhos.
Portugal bestial!!!Espero que o Dunga e seus comandados não percam o sono, e nem devem. Portugal esteve bestial nesta segunda (21), ao fechar a segunda rodada do Grupo G no Green Point Stadium, na Cidade do Cabo. Cristiano Ruuunaldo (como se diz no idioma de Camões) participa do comercial de uma bola na TV, em que pergunta ao telispectadoire: “Onde istá tua?”. Estava na hora de ele achar a dele, ô pá – e conseguiu. Nem dá pra dizer que o craque lusitano não tenha feito chover. Boa parte do jogo foi disputado com água que escorria pelos bigodes e encharcava as camisolas. O que não impediu os comandados de Carlos Queiroz de chegarem à acachapante goleada por 7 a 0. Não teve Pak, Lam, Pyo ou Kim que resolvesse a parada dos norte-coreanos. O grande mérito desta seleção portuguesa é ir pro ataque com atacantes, mais os meias e até zagueiros com potencial de concluir pras redes inimigas. O técnico mexeu no time que fizera a partida de estréia – empate por 0 a 0 com a Costa do Marfim – e tornou-o mais ofensivo. Portugal ditou o ritmo, soube parar os norte-coreanos quando preciso – abusou das faltas, é verdade -, mas seus jogadores seguiram o que dita o hino: “Às armas!!! Às armas!!!”. Para quem tinha um ataque de respeito, os lusitanos – desta vez, vestidos de vermelho – também contavam com os avanços de Ricardo Carvalho: implacável na marcação, o zagueiro participou de jogadas de perigo no ataque e por pouco não foi dele o primeiro gol. O jogo foi aberto em relação ao que se viu na rodada inaugural da chave, mesmo porque aos norte-coreanos não interessava outro resultado que não vencer; empatar, para os dois times, ficaria complicado. Kim Jong-Hun (vide Lances capitais) foi o primeiro a tentar um chute a gol na partida. Aí, patrícios, aos 29 minutos, Raul Meireles recebeu lançamento na medida, no meio da zaga, esperou o goleiro sair e chutou por baixo de Ri Myong-Guk. O esférico foi com tudo pras redes, enquanto Meireles devia estar a pensaire: “Ri, agora, ô guardião!”. Se estava aberta a porteira asiática, os europeus não deixavam por menos na marcação. Portugal havia cometido mais faltas que a Coréia do Norte, mas o primeiro cartão amarelo foi para Pak Chol-Jin. Ô, juizão! Cristiano Ronaldo pedia a bola, batendo no peito, não se sabe se penitenciando-se por ainda não ter feito gol na competição. Os norte-coreanos pelo menos haviam conseguido alguns escanteios e faltas, nenhuma muito próxima da área portuguesa. O que estava para aconteceire no segundo tempo nem N. S. de Fátima e os três pastorinhos poderiam prever. A chuva que caía transformou-se num rosário de gols. Portugal deu o chamado banho nos pernas-curtas. Mandou na partida, jogou rápido e sério, sem chances de uma reação – nem bomba nem míssil pararia os gajos. Bestiais!!! Com menos de 20 minutos do segundo tempo, a porteira asiática estava não apenas aberta, mas escancarada. Mérito dos portugueses que não abriram mão de atacar com três jogadores da posição, meias ofensivos e até com a zaga indo prus arrumates. Teve até gol luso-corinthiano de Liedson. E para coroar a exibição, não a sacolada, Cristiano Ronaldo também fez o dele. Seria injusto o nome do jogo não ser bafejado pelos deuses dos estádios. E foi o que aconteceu: o atacante dividiu com o goleiro, a jabulani subiu e baixou na nuca do número 7, caindo mansa aos seus pés; foi só tocar pras redes. Aí já estávamos nos estertores da porfia. O árbitro chileno Pablo Pozo teve dó dos norte-coreanos e deu só 2 minutos de acréscimo. Pode ser que fosse sair correndo para assistir a Chile e Suíça, no Grupo H.
Lances capitais
Vermelhos de raivaChile e Suíça fizeram o confronto dos vermelhos, no Grupo H, em que a cor teve mais a ver com a raiva que as equipes passaram com a arbitragem de Khalil Al Ghamdi, da Arábia Saudita, do que com a de seus uniformes. O que interessava às duas seleções, vindas de vitórias, era ver quem sairia vencedora para assumir a liderança isolada da equilibrada chave, mesmo porque Espanha e Honduras jogariam à noite, lá. O jogo começou morno, no Estádio Nelson Mandela Bay, em Porto Elizabeth, mas à medida que o tempo passava tornou-se quente pelos ataques vigorosos de ambas as partes e, principalmente, pela disputa acirrada da posse de bola. Al Ghamdi (não confundam, por favor, com o Mahatma, hindu, que além de ter “n” e não “m“ no nome, era absolutamente zen – e tão-somente zen), que parecia ter saído de recente aula de arbitragem, para não ser conivente com pegadas mais duras ou mesmo desleais, mostrou cedo o primeiro cartão amarelo, para Nkufo, por segurar um chileno pela camisa. Até onde se sabe, aí acertou na medida punitiva. Mas, de uma arbitragem zen para outra, zenvergonha (que é como se poderia escrever na Suíça), o caminho era curto. O árbitro saudita teve atuação maldita pelas duas equipes, que sofreram com a profusão de cartões. A distribuição de amarelos atingiu, na sequência, dois chilenos: Carmona e Ponce, este por pé alto (e olha que para atingir a cabeça de suíço tem de ser bom na capoeira). Ponce, aquele que lembra o visual de Che Guevara, endureceu e perdeu a ternura: o cartão dele foi por reclamação. El loco Bielsa parecia não acreditar no que via do banco, com aquele olhar meio napoleônico meio maquiavélico. Aos 30, Behrami recebeu cartão vermelho por jogada semelhante à que envolveu Kaká e Keita (dá rima na pronúncia francesa), no domingo. O suíço deixou o braço para trás, com a mão atingindo Vidal (meio no rosto, meio no pescoço), que insistia em persegui-lo para tomar-lhe a bola. O chileno foi ao chão, contorcendo-se todo. Mais fita que porrada! Ah, é (deve ter pensado o alemão Ottmar Hitzfeld, técnico da Suíça), pois vamos nos fechar ainda mais e quero ver se os Andes superam os Alpes. Os suíços postavam 8 na área a cada investida chilena. Numa delas, aos 39, Sanchez dominou, atrás do zagueiro, e concluiu mal em cima de Benaglio. Numa rara substituição ainda no primeiro tempo, ainda mais aos 42, Hitzfeld colocou Tranquilo Barnetta no lugar de Frei. Talvez confiante em que, com esse nome, conseguisse esfriar o clima da partida e, quem sabe, surpreender o Chile num contra-ataque. Barnetta, à semelhança da Beretta, é bom de tiro. Na verdade, o jogo ferveu, mesmo, pela pressão chilena, intensificada nos minutos finais com a criação de 5 chances de gol. (Perdão, leitores, mas a essa altura o jogo a que eu assistia com atenção para escrever menos bobagens possível na coluna, teve de ser interrompido nas minhas retinas porque tive de atender ao Leandro e seu assistente, que com presteza acudiram ao meu chamado para salvarem o meu PC – vide nota no pé da coluna). O que sei é que a partida terminou 1 a 0 para o time de Valdívia, El Toro, que entrou no segundo tempo, e aí já se faz uma diferença sensível a favor dos nossos vizinhos. Ele começou a jogada, aos 29, lançando Paredes, à direita, que cruzou para a conclusão com categoria de González. Vencer aquele ferrolho suíço (que ao contrário dos queijos deles não tem buraco) por 1 a 0 é como uma goleada. Os sul-americanos se saem muito bem na competição até agora, ao contrário de africanos, asiáticos e oceânicos; e a rodada final do Grupo H, nesta fase da Copa, promete fortes emoções. Até a Suíça ainda pode surpreender na classificação para as oitavas; certamente vence Honduras, até mesmo por goleada. Aí, hermanos sudamericanos e europeos, quem decide mesmo é o resultado entre Espanha e Chile.
Fúria contidaO outro time vermelho, porém mesclado de amarelo, do Grupo H – a Espanha – para mim é a decepção da Copa, por enquanto. Timaço no papel, malas ao chegarem para a competição na última hora, pelo menos num quesito vão bem: não tomaram una tarjeta amarilla siquiera en la competición. Bem que poderiam sair já nesta fase com o troféu farplay. E aí, Hugo Chavez se intrometeria onde não é chamado e daria o troco: “por que non se calan?!”. Eu esperava que a chuva de gols lusitanos sobre os norte-coreanos, na Grupo G, poderia se deslocar para o jogo Espanha e Honduras. A Fúria não foi com tudo, porém, sobre os hondurenhos. Os espanhóis são firmes na defesa, sem precisar congestioná-la; saem quase que solenes da defesa pro meio e do meio, elegantes, pro ataque, mas se chutam, o fazem mal; se cruzam pra área, os cabeceadores ou não chegam ou mandam por cima do gol. Mais contido que eles, só mesmo o árbitro japonês, Yuichi Nishimura, que no Ellis Park, em Joanesburgo, parecia pedir licença quando advertia ou chamava alguém pra receber o cartão. Perdi as contas das bem tramadas jogadas, ora pela direita com Navas, Sérgio Ramos; ora pela esquerda, com David Villa, Capdevilla, sob a batuta de Xabi Alonso. Torres, então, sei lá, encarnou Sansão: cortaram-lhe as madeixas, perdeu a força. Errou chutes, não cabeceou, saiu. A Espanha se perde em preciosismos, como já acontecera na rodada inicial, com toques a mais. Bem diferente de seu vizinho europeu, no Grupo G. Fez 2 a 0 em Honduras, com David Villa, aos 17 do primeiro tempo; um golaço em lançamento de Piqué. Já dentro da área, o atacante passou por 3 defensores e mandou na gaveta, já caído, à esquerda de Valadares. A goleada se desenhava, ainda mais que o segundo gol saiu aos 5 da segunda etapa. David Villa tocou para Navas, à direita, recebeu de volta e chutou de fora da área (o goleiro, adiantado, ainda foi atrapalhado porque a bola desviou na zaga). E ainda teve pênalti perdido por Villa, que mandou pra fora à direita do gol, para espanto até de torcedores vuvuzelentos; pararam de soprar, estarrecidos com o que viram. A jogada de Navas não merecia esse desfecho (o ponta deu corte seco no zagueiro, que acertou o pé de apoio do espanhol) - nem a superioridade espanhola sobre os hondurenhos. Frase da Copa
Na estrada com Valquíria
Sem PC não teria coluna
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